20 de setembro de 2015

Dosagem


Tudo começou no dia em que um tropeiro, vindo de longínqua fazenda, chegou naquela cidadezinha do interior.
Era para ele algo raro uma festa no povoado. Ficou observando as pessoas que se locomoviam agitadas. Após alguns momentos de observação, tomou coragem. Pôs-se também a caminhar, acompanhando a massa. Passadas curtas, andar indeciso, caminhava o tropeiro à procura do objetivo que ali o levara.
Ao olhar para sua direita, deparou com a vitrina de uma loja. Ali se encontrava o desejado. Ali estava, bem à vista e tão perto de suas mãos, o objeto cobiçado... um rádio.
Minutos de indecisão. Contemplava o sonhado rádio. Decidido, entrou na loja.
Por trás do balcão surgiu solícito o vendedor. Ao vê-lo ficou atordoado: um padre! Naquele tempo, um padre era algo como que sagrado. No entanto, ali estava, como vendedor da loja, um padre de batina e tudo.
Além de dono da estação de rádio local, também o era daquela casa comercial, onde se vendia um sem-número de coisas.
Apontando para a prateleira de artigos eletrodomésticos, o sertanejo, ainda acanhado, dirigiu-se ao padre:
- Eu vim comprá um rádio, padre. Mas, tem que sê baratinho.
O dono da loja deu uma olhada no tropeiro. Mediu-lhe as posses e decidiu-se rápido. Tinha o que ele desejava: um rádio à bateria, era o último. Poderia vendê-lo bem em conta.
Estipulado o preço, o sertanejo contou as economias que trazia na algibeira da calça remendada, e concordou:
- É, o preço inté qui tá bão. Eu levo o bichinho.
O aparelho foi ligado para experiência.
Logo de início o dono da loja verificou que o rádio estava defeituoso: o dial quebrado. Só sintonizava uma estação. Justamente a sua, a rádio Paroquial. Mas, pelo preço que estava sendo vendido, aquilo não importava. Além disso, entendia ele, a sua estação não era nada má.
O tropeiro seguiu seu caminho, depois que o padre lhe sugeriu que não mexesse naquele botão de sintonia. Mostrou-lhe onde aumentar e diminuir o volume, como se usava a bateria e despachou o tropeiro com rádio e tudo.
A venda fora efetuada um dia antes do Domingo de Ramos. No dia seguinte começava a Semana Santa.
Na distante fazenda, o rádio do tropeiro foi a grande novidade. Gente de toda a redondeza se dirigia ao seu rancho para vê-lo. O sertanejo subiu no conceito da vizinhança.
Domingo de Ramos juntou-se o povo a ouvir as palavras do padre a anunciar a Semana Sagrada.
Depois rezaram acompanhando o cura, cuja voz estridente até eles chegava graças àquele aparelhinho.
Mas a Semana Santa dura sete dias!
Segunda e terça-feira, o tropeiro e convidados ouviram as rezas que vinham da estação de rádio da cidade. Na quarta, acompanharam todo o ofício de trevas. Quinta-feira, ouviram com atenção a cerimônia do lava-pés. Sexta, choraram com a adoração da Cruz e, no sábado, vibraram com o Aleluia.
Foram sete dias inteirinhos de rezas.
Por mais católico que fosse, o tropeiro sentiu-se desiludido. Não fora apenas para rezar que ele fizera economia e comprara o rádio, não.
Por coincidência, ao término da Semana Santa, esgotou-se a carga da bateria. O dono do rádio resolveu ir até à cidade procurar o padre e pedir-lhe que a recarregasse. Ao vê-lo:
- Acabou a bateria? Não há de ser nada. Vou mandar recarregá-la, explicou o atencioso padre, novamente transformado em comerciante.
- Está gostando do rádio? volta o padre.
Segundos de silêncio. Meio sem jeito, o tropeiro respondeu:

- Gostano, inté que tô, seu padre. Mais quiria pidi um favorzinho. Eu gosto muito de rezá, pode crê, mais... será que o sinhô não pudia recarregá esta bateria metade de reza e metade... de umas musiquinha sertaneja?

1 de julho de 2015

Saudade eterna!

Hoje o Sol não brilhou, os pássaros não cantaram, os risos se calaram e as lágrimas rolaram em meu rosto. Chorei muito hoje, dois meses já se passaram e meu coração sofre em silêncio. Hoje eu queria que essa verdade fosse mentira, que fosse um pesadelo e que ao acordar encontraria o meu mundo normal. Queria ter tido mais tempo para estar com você. Agora restam apenas lembranças. Lembranças de um tempo bom que não volta mais. Não voltam os risos trocados, os abraços apertados, as histórias, o passeio nas férias, o brincar pelas praias de Ubatuba. Agora tudo o que sinto é saudade e dor. Dói muito... muito mesmo. Jamais esquecerei cada momento que vivemos juntos.
Quanta falta você nos faz, Carina.

17 de junho de 2015

Saudades de Você


Passando pelo Banco do Brasil, vi um senhor conduzindo pelas mãos uma garotinha. Devia ter ela uns 5 ou 6 anos. Mas o ar de alegria e felicidade que brotava de suas faces era contaminante.
Atravessei a praça e sentei-me num banco. Fiquei olhando para eles e me lembrando dos tempos em que você e seus irmãos eram pequenos. Eu os levava àquela praça pelas mãos, mas tinha só duas, como iria conduzir três, não é difícil. Então sempre um escapava e saía correndo, quem? Cléverson. Só podia ser. E logo atrás dele ia toda serelepe, balançando seus cabelos de um lado para outro, a Carina. Ai, meu Deus. Que bons tempos!
Claire ficava mais quieta e compenetrada. Sentava-se naquele banco defronte a fonte luminosa e ficava olhando meus lindos filhos brincarem de escorregar aos pés do monumento ao Cônego José Carlos. Aquilo era felicidade.
Eu, todo orgulhoso, fazia questão de que todos olhassem para vocês e vissem que eram os meus filhos. Quanta alegria naqueles momentos.
Você, Carina, não deixava por menos. Competia com o seu irmão em tudo. Tudo o que ele fazia você queria fazer também. Era a minha linda molequinha de sorriso sincero e constante.
De vez em quando, olhava para mim e gritava: “Papai (era sempre papai), olha o Cléverson me amolando...” E partia para cima dele.
Quantas vezes eu sonhei com esses momentos tão bons. Quantas vezes, sozinho no meu canto, vejo vocês correrem, gritando e até, por que não, brigando.
Lembro-me dos muitos momentos em nossas viagens pelas Minas Gerais e pelas praias de Ubatuba. Em Campos do Jordão, você corria pelos gramados do parque, sempre balançando seus cabelos lisos, e gritando. De vez em quando se aproximava de nós e soltava aquela risada de papai Noel: ho ho ho... que só você sabia imitar e que ainda tenho gravado nos filmes que fazia.
A menina, a caçulinha, o anjo que Deus decidiu colocar em nossas vidas. Não é uma graça?
A sua luta, a sua disposição, a sua busca em alcançar boas notas na escola a fez passar por dificuldades que, mais tarde, você superou... e como superou.
Um dia você resolveu dançar. E lá foi minha linda garotinha para o balé. Mas parece que o balé não estava para você, levadinha como era. Então partiu para outro tipo de dança. Foi uma dançarina linda e empolgante. Suas apresentações, eu ainda as tenho filmadas, eram motivos de orgulho para todos nós.
Lembro-me também dos nossos momentos na praia. Segurava você pelas mãos e a conduzia em direção ao mar. Você ia saltitando, como se dirigisse ao melhor de todos os lugares. Entrava nas águas frias do Atlântico e batia suas mãos para molhar o papai orgulhoso. Como você gostava do mar.
Suas participações em campeonatos de natação na AABB a fez se transformar num peixinho lindo, numa sereiazinha maravilhosa na piscina daquele clube.
E assim foi você!
Eu ainda sentado naquele banco da praça, continuava sonhando o sonho bom e ter tido você criança e conseguido, embora cheio de falhas, dar-lhe o que eu sempre quis dar aos meus filhos: amor, compreensão, carinho e incentivo.
Fui e sou um pai bobo. Quem não seria tendo filhos tão maravilhosos como vocês.
Nesse devaneio, naquela praça, alguém me acordou para a realidade. Não via mais aquele senhor com a garotinha. Um amigo me fez retornar ao presente.
Voltei para casa e aqui estou escrevendo estas palavras bobas que brotam de um coração ainda mais bobo, de um pai orgulhoso e cheio de saudades.
Você, Carina, cresceu, é, você cresceu. Tornou-se uma mulher linda, meiga, carinhosa e, acima de tudo, um anjo para todos os que eram cativados pelo seu sorriso.
Você casou-se e teve dois lindos filhos: Beatriz e Neto.
Quando chegou aquele mês de março de 2012, tivemos a triste notícia de que você tinha câncer. Mas não se entregou. Pelo contrário, lutou bravamente e sempre com confiança e fé. Foram três anos de lutas e sofrimento. Nunca sequer ouvimos de sua boca uma palavra de revolta ou de mágoa. Mesmo nos seus momentos de dor, sempre sorria.
Mas, como já disse, Deus apenas nos emprestou você. Agora, em abril de 2015, Ele a quis de volta para enfeitar o céu de sorrisos e alegrias.
Você partiu. Você venceu, porque conquistou os céus. Mas a saudade sempre permanecerá em nossos corações. Sempre visualizarei aquela garotinha sapeca e querida por todos nós, que nos deu tantos momentos de alegria e, hoje, nos deixa seu legado: os filhos de sua vida.

28 de maio de 2015

Curiosidade: O português dos portugueses - 33

Às vezes, nem parece que falamos a mesma língua. É só observar como algumas palavras são bem diferentes aqui e em Portugal. Veja alguns exemplos:

Português do Brasil         Português de Portugal

abridor de garrafas              tira-cápsulas
abridor                                  tira-cápsulas
açougue                                talho
aeromoça                              hospedeira de bordo
água gelada                          água fresca
água sem gás                        água lisa
apontador de lápis              apara-lápis
aposentado                           reformado
apostila                                 sebenta
bala                                       rebuçado
banheiro                              casa de banho
beija-flor                               chupa-flor
cafezinho                             bica
caixa, caixinha                     boceta
calcinha                                cueca
camisinha                             durex
cardápio                                ementa
carteira de identidade         bilhete de identidade
carteira de motorista           carta de condução
celular                                    telemóvel
chiclete                                  pastilha elástica
cola                                        pegamasso
conversível                           descapotável
faixa de pedestres               passadeira
faxineira                               mulher-a-dias
fazenda                                 quinta
fila                                         fila ou bicha (gíria)
fósforos                                chamiços
garoto                                   miúdo
geladeira                              frigorífico
guarda-chuva                      chapéu-de-chuva
grampeador                         agrafador
história em quadrinhos     banda desenhada
impressão digital               dedada
injeção                                 injeção ou pica (gíria)
moça, jovem                       rapariga
meias                                    peúgas
mulher vagabunda             moça
ônibus                                  autocarro
pedestre                               peão
pimenta                               piri-piri
ponto de ônibus                paragem
professor particular           explicador
sanduíche                           sandes
sorvete                                gelado
suco                                     sumo
tapete                                  alcatifa
terno                                    fato
trem                                     comboio
vaso sanitário                    sanita
vitrine                                 montra
xícara                                  chávena

Curiosidades: Quando começamos a colocar o pingo no i? - 32



A adição do ponto sobre a letra i data do século XVI. Quando os caracteres góticos foram adaptados os dois is (ii) eram frequentemente confundidos com a letra u. Para evitar este problema, criou-se o costume de acrescentar a ele o acento gráfico til, apóstrofo e outros sinais, até se desenvolver o i com ponto. Esses acentos se transformaram em ponto simples a partir do século XVI. Para alguns copistas da época, no entanto, essa prática não era muito aceita. Daí a expressão colocar pingo no i, com sentido de decidir alguma coisa..

19 de maio de 2015

Carina, minha filha

     Faz um mês que você nos deixou, mas para todos nós que vivemos intensamente seus últimos
dias, parece que foi ontem. Sinto sua presença em todos os momentos, escuto sua voz, sinto seu cheiro, você é o primeiro e o último pensamento do meu dia. Quando vou à sua casa, visitar seus filhos, ainda olho para ver se você está sentadinha naquele sofá. Muitas vezes penso que é mentira tudo o que aconteceu, mas a vida é assim, e tenho certeza de que Deus estava precisando de você, Ele estava se sentindo um pouco triste e a chamou para animar o céu, com sua alegria.

     Como diz a música, "sempre haverá uma data, palavra, um olhar, um filme, uma música, um perfume, um abraço, um sorriso, só pra lembrar você".

     Todos nós temos tentado manter um sorriso e uma alegria, como você nos ensinou, mas às vezes se torna muito difícil. Você dizia: “Pai, como será do outro lado?” Eu respondia: “Não se preocupe, minha filha, garanto que é bem melhor do que aqui.” Hoje você sabe como é e que eu tinha razão, mas sabe também que não é fácil viver a sua ausência. Ela dói.

     A razão pela qual dói tanto nos separarmos é porque as nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham sido assim e para sempre serão, talvez tenhamos vivido mil vidas antes desta e em todas elas tenhamos nos encontrado. E talvez em cada uma delas tenhamos sido obrigados a nos separar tão precocemente.

     Quando olho pra você em meus sonhos, vejo sua beleza e seu encanto, seu entusiasmo, sua confiança, seu sorriso cativante, seu exemplo dignificante. E sei que passamos quase 34 anos um ao lado do outro e nossas almas sempre estiveram juntas e têm que estar sempre juntas. E assim, por alguma razão que nenhum de nós entende, fomos forçados a dizer adeus.

     Sua preocupação maior: seus filhos. Você nos pediu que ajudasse seu marido a cuidar deles. Não se preocupe, nós cuidaremos. Eles são sua herança. Você continha vivendo neles.

     Deus tira de nós o que mais amamos, quando menos esperamos e sem nenhum aviso. E a culpa? A culpa é da vida que tem início, meio e fim. A nossa culpa está apenas em amar tanto e sentir tanto perder alguém. Mas o tempo é remédio e nele conquistamos o consolo, com ele pensamos nos bons momentos. E no fim apenas a saudade e uma certeza: não importa onde você esteja, estará sempre conosco. A ferida sara, mas não cicatriza.

      Ficar triste e abatido num momento como esse, é algo mais que normal, isso faz parte dessa etapa tão dolorosa, mas entregar-se à depressão, ao desânimo e a falta de esperança não é a melhor solução. E isso você não queria.

     Olho para o futuro. Há uma vida nova pela frente. Hoje é o início da nova vida. Não é a vida que eu sonhava. Não é a vida que eu planejei, mas é a vida que me restou. 

     Eu adoraria dizer que tudo dará certo e prometo fazer tudo que eu puder para que isso aconteça. Mas nunca mais voltaremos a nos encontrar, foi uma despedida, mas sei que nos veremos logo. E em outra vida nos encontraremos de novo e talvez até lá as estrelas tenham mudado e então nós nos veremos juntos novamente.

     Um beijo afetuoso e cheio de saudades de todos nós: pais, filhos, marido, irmãos, sobrinhos, primos e tios.

J. Claiter

23 de abril de 2015

Carina

Ela foi um exemplo de vida, de entusiasmo, de alegria, de perseverança, de fé e de aceitação.
Ela foi a queridinha de seus irmãos, foi a filha exemplar, a mãe carinhosa e a esposa dedicada.
Foi o anjo da UTI Neonatal do Hospital Alzira Velano.
Apesar de tudo isso sofreu as amarguras de um câncer que a foi destruindo a cada dia. Nunca reclamou de nada apesar das dores atrozes. Mesmo assim, nunca deixou de sorrir.
Pois é, Deus no-la emprestou por 33 anos e hoje, 18/4/2015, Ele resolveu tê-la de volta. Carina partiu para os braços do Pai, foi para junto de seus avós que tanto amava.
Hoje ela está no lugar reservado aos justos e àqueles que amam a Deus. Já não temos mais lágrimas para pranteá-la. Ela nos deixou e deixou conosco a lembrança de tantos anos de convivência e alegria.
Mas, além da saudade, nos deixou duas joias preciosas: Beatriz e José Carlos que são a continuidade de sua vida. Deixou pais chorosos e marido saudoso. O céu está em festa, apesar de nossas lágrimas, pois lá hoje aportou uma SANTA.
Fique com Deus, minha caçulinha querida, e nós aqui ficamos na saudade que, temos certeza, durará até o dia em que nos encontraremos novamente.
Beijos de todos nós: pais, irmãos, sobrinhos, tios, primos e, principalmente de seu marido Isaías. Saudade de seu sorriso contagiante. 

Permanência

Claire de Oliveira Silva Quirino
À minha irmã
      Foste. Numa madrugada fresca, escura e calma. Após despedidas, lágrimas, desespero e muita dor, esperaste o silêncio, recobraste o fôlego e partiste serenamente. Senti a última batida de teu coração, vi o derradeiro sopro de vida abandonar teu corpo tão castigado por três anos de luta contra um mal tão implacável. Deixaste a paz e a saudade.
     Tive o privilégio de caminhar a teu lado nesta jornada. Dividimos brincadeiras e confidências, sonhos e medos. Fomos irmãs, amigas, comadres, mãe e filha uma da outra. Decidimos ter filhos na mesma época para que pudessem ser mais do que primos, assim como nós fomos mais do que irmãs. Conversávamos em silêncio, à distância e até durante a madrugada.
Amparei-te os primeiros e os últimos passos. Escolhi o nome que carregaste nesta vida e usei-o para dizer-te adeus. Senti tuas dores tão intensamente que às vezes as confundia com as minhas. Tuas aflições fizeram morada em minha alma. De longe, desesperei-me com tuas angústias e fortaleci-me com tua bravura.
     Lutaste. Tanto e tão bravamente, que até os mais céticos passaram a acreditar. Tua vontade de viver e de ver teus filhos crescerem, tua fé e teu amor – sempre distribuído gratuita e facilmente - foram teus alicerces. Impossível não te admirar, não te amar, não se emocionar, não se transformar.
Foste, mas deixaste um legado – um belo legado de fé, esperança, determinação e amor. Sobretudo amor. Nunca conheci ninguém que amasse de modo tão genuíno. Amaste a família, a profissão, os pacientes, os amigos, os desconhecidos, a vida. E tanto amor assim não se dissipa, permanece.
Por isso, ficaste. Nos olhos da tua filha, nas molecagens do teu filho, na bondade do teu marido, na doçura dos teus sobrinhos, na dedicação dos nossos pais, na alegria do nosso irmão, no meu sorriso, em nossas vidas. Em cada alma que cruzou com a tua, deixaste um pouco de ti para que o mundo se tornasse um lugar melhor.
     Agora, a dor ainda é muito grande. Mas sei que estás em paz. Para me manter de pé, procuro me lembrar de teu largo e constante sorriso, dos teus olhos tão redondos e vivos, das brincadeiras na rua, das tardes na casa da vó, dos feriados em Ubatuba. Assim, sinto tua presença cálida e serena, e meu coração se aquieta.
     Tua luz me guiará até o fim desta jornada e me dará forças para cumprir todas as promessas que te fiz. E te prometo mais: começarei cada dia com um sorriso ainda mais largo, tanto quanto o teu. Onde quer que estejas, saibas que foi uma honra estar a teu lado. Te amo infinita e eternamente!

22/4/2015

Quando eu busco em minha memória

Cléverson de Oliveira e Silva
à minha irmã

     Quando eu busco em minha memória, eu me lembro daqueles olhinhos castanhos bem arredondados... Está certo que não eram somente os seus olhinhos que eram bem redondinhos, seu rostinho também era assim e eu não perdia a oportunidade de lembrá-la disso, importunando-a, chamando-a de “Mônica”, “Gorda”... e quantas vezes não brigamos por conta disso. Mas refletindo agora, acho que todas essas importunações eram a forma de dizer algo mais. Criança não sabe se expressar bem com palavras e quer estar sempre por cima, mas cada provocação era uma forma de dizer “eu me preocupo com você”, “eu estou pensando em você”, “eu amo você”...
     Esse rostinho redondo, quando o sorriso desabrochava (e este sorriso era quase permanente), tornava-a macilenta e seus olhinhos menores, estampando a alegria de uma menina moleca, que brincava comigo na rua junto com os meus amigos... era também um deles, minha amiga.
     Ela foi crescendo, nossas brigas diminuindo, nossa  proximidade  aumentado. Ela se tornou uma adolescente e uma mulher linda, casou-se e me deu dois sobrinhos que amo de paixão. Saibam que o tio/padrinho vai estar sempre aqui para o que precisarem.
    Essa menina/mulher, Carina, querida, cujo coração é maior que o mundo, que coloca a necessidade dos outros na frentes das suas. Guerreira, que luta de cabeça em pé e com um sorriso no rosto.
     Eu te amo muito minha irmãzinha, e vou me lembrar sempre de você assim, com seu sorriso. Sua falta vai deixar um enorme vazio no meu coração e vai levar um bom tempo para cicatrizar.
Eu me esforço muito para não pensar em como tudo ocorreu nos últimos tempos, porque, quando o faço, sou dominado pela tristeza e pela saudade. Sei que a única maneira de me manter são é apoiando minha família e contanto com a minha esposa, cujo ombro serve como foz para este rio perene que nasce no meu coração, corre pelos meus olhos e desagua em seu colo.
Sei que devo tocar a vida. A dor vai passar, mas a saudade vai permanecer. Sei que hoje você olha por todos nós e que nossas vidas estão mais protegidas. Existem coisas para as quais nunca encontraremos explicação.

22/4/2015

15 de abril de 2015

Viagem de Núpcias

Terminada a festa do casamento, meu irmão nos levou para Varginha, onde passamos a noite no Fenícia Palace Hotel.  Este hotel fica no centro da cidade, ao lado da antiga rodoviária.
Na manhã seguinte tomamos um ônibus para São Paulo. Assim que entramos no ônibus assistimos a uma discussão entre gerente da empresa e o motorista. O ônibus dirigiu-se até à garagem da empresa onde ficamos parados por aproximadamente meia hora, até que a discussão chegasse ao final.
Enfim fomos para São Paulo. O veículo não oferecia quase nenhum conforto e a viagem foi muito demorada, pois naquela época não havia rodovias boas e conservadas. A Fernão Dias tinha apenas uma pista de mão dupla.
Chegando a São Paulo - é bom lembrar que a Rodoviária ficava na Praça Júlio Prestes, na região da Luz, no centro e não no Tietê onde é hoje - apanhamos a mala e chamamos um táxi.  Nós pretendíamos ir para o litoral Sul, exatamente para a cidade de Itanhaém.  Tínhamos que ir para outra rodoviária, acho que Barra Funda, não me recordo bem.
O problema é que a mala que Carmen levava era enorme, a ponto de o táxi não aceitar levá-la, então tivemos que procurar um táxi maior. Com muito custo conseguimos.
O drama de toda a viagem foi a mala. Enorme e estava muito pesada. Até então eu não fazia ideia do que havia nela.  Chegando à rodoviária, foi preciso um carrinho maior para levar a abençoada bagagem. 
Embarcamos com destino à Itanhaém, cidade que eu não fazia a mínima ideia de como era e nem tampouco para que “rumo ficava”.
Desembarcamos naquela cidade e lá veio o problema da mala. O táxi quase se recusa de nos levar para o hotel com aquela mala. Mas, depois de alguma conversa, conseguimos. Chegamos então num hotel de classe média chamado Hotel Amazonas. Era noite.
Logo na portaria, o recepcionista nos disse que não havia quarto com cama de casal. Beleza, em plena lua de mel. Brincadeira!  Tivemos que aceitar um quarto com duas camas de solteiro e o jeito foi juntá-las.  Tudo bem.
Resolvemos abrir a mala que mais parecia um baú de tão grande e pesada. Quando a abrimos... que susto!  O que havia? Duas caixas de camisas cheias de salgadinhos da festa....  Uma blusa de frio superquente e pesada e outras roupas mais.  Era janeiro, imagine, com verdadeiros capotes de frio.  Os salgadinhos, nem precisaria dizer, azedaram e se perderam.
Tomamos um bom banho, pois passamos muito tempo viajando em um ônibus que não tinha nenhum conforto e fazia muito calor. Para amenizá-lo durante o percurso, era necessário abrir as janelas, o que muitos passageiros não aprovaram.
Vestimos um short e saímos para dar uma volta. Pra que lado ficava o mar? Não se via nada porque a iluminação da cidade deixava muito a desejar.  Na porta do hotel, sentimos a brisa do mar. Pronto, é para lá que vamos.
O mar ficava à direita e fomos para a esquerda. Brincadeira do destino. Andamos por um bom tempo, sentindo o cheiro do mar e nada de mar.
Foi então que deixamos a busca para o dia seguinte. Precisávamos comer alguma coisa. Mas onde encontrar um restaurante bom? Não achamos.  Pelo que vimos da cidade, era muito ruim. Fomos a um barzinho, quase ao lado do hotel, onde serviam refeições. Comemos por ali mesmo. Após o “jantar” fomos de volta para o hotel. Não havia mais opções.
De manhã, após o café - que por sinal muito fraquinho - fomos novamente à procura do mar. E qual não foi nossa surpresa ao chegar à porta do hotel... ali estava o mar a poucos metros de nós.
Voltamos às pressas para o quarto onde trocamos de roupa e nos dirigimos à praia. Surpresa. A praia não era tão limpa e não havia praticamente ninguém por ali.
Muita pedra, pouca areia, sem ondas e bastante suja. Mas, ficamos por ali mesmo. Demos um mergulho e nos deitamos na toalha sobre a areia.  Não sei determinar o tempo que ficamos, só sei que ao sairmos estávamos vermelhos como um pimentão.  Fomos para o hotel e tomamos um banho. Qual não foi a surpresa. Nossos corpos estavam ardendo e muito. Queimamos demais, confiando que o mormaço não nos faria mal. Não podíamos encostar um no outro. Imagine só. Em plena lua de mel.
Dali fomos à farmácia e compramos uma loção para aliviar as queimaduras.  Pelo movimento da farmácia, não éramos apenas nós a passar pelo problema. Havia outros casais nas mesmas condições. Daí, o funcionário nos disse: mineiros não estão acostumados ao sol. É normal isso por aqui.
Sim, pode ser normal. Mas não era normal em viagem de núpcias.  Tudo bem, passamos o resto da tarde e a noite passeando pela cidade. Pelo visto, muito pequena. Fomos então ao mesmo restaurante onde estivemos no dia anterior.
Depois disso, sentamos num banquinho de uma pequena praça, até que bastante aconchegante. Ao nosso lado, passou um trenzinho da alegria. Puxado por um jipe e com carretas onde se transportavam turistas.
Resolvemos dar uma volta naquele trenzinho. E lá fomos. Ele começou a dirigir-se para um local um pouco distante de onde estávamos. Foi em direção a um pontilhão que ficava logo à frente. Quando o trenzinho acabou de atravessar a ponte, nossos olhos não acreditaram no que viram.
Uma praia maravilhosa, um colírio para os olhos, seu nome: Praia dos Sonhos. Cercada de muretas, com uma infraestrutura fantástica.  Na orla, lindos prédios, restaurantes e bares lotados.  Olhamos um para a cara do outro e perplexos com a maravilha que vimos.  Ali, naquelas praias, estava sendo filmada a novela da Globo: “Mulheres de areia”.
Ficamos indignados conosco mesmos. Depois de passarmos por um hotel bem ruinzinho, um restaurante horrível, encontramos o paraíso.  Já era noite, voltamos para o hotel.
Na manhã seguinte, vestimos nossas roupas de banho e fomos para aquela praia, onde ficamos o dia todo, degustando frutos do mar, peixes e admirando a beleza local.
 Alguns anos depois, quando lá voltamos... bem, a coisa foi diferente.

2 de março de 2015

O Filme

Carmen e eu estávamos conhecendo um pouco das cidades históricas de Minas Gerais. Ouro Preto, Mariana, Congonhas, São João Del Rei, Tiradentes e, depois, Sete Lagoas, de onde partimos para a Gruta de Maquiné. Realmente foi uma viagem bastante proveitosa e agradável. Éramos recém-casados e não conhecíamos aquela região.
Depois deste belo passeio, fomos para Belo Horizonte. Carmen ficou bastante feliz em conhecer esta cidade.
Caminhamos por quase toda a Belo Horizonte. Fomos pela Praça Sete e ruas da redondeza. Naquele momento não podia me arriscar, pois ainda não conhecia bem a cidade. Conhecemos parques, restaurantes e boas lojas.  Estávamos hospedados no Ambassy Hotel, próximo à rodoviária, na Rua Caetés quase esquina com a Av. Afonso Pena e Praça Rio Branco.
Fomos conhecer e passear pelo Parque Municipal, centro de BH, na Avenida Afonso Pena. O Parque Municipal é o patrimônio ambiental e mais antigo de Belo Horizonte. Ele forma hoje um ecossistema representativo com árvores centenárias e ampla diversidade de espécies. Muito bonito o local.
Mas voltemos ao assunto. Numa tarde, resolvemos ir ao cinema. Havia uma sessão às 15 horas no Cine Teatro Brasil.
Não me recordo o nome do filme, apenas me lembro que se tratava de um filme de aventuras, no tempo de capa e espada.
Havia poucos espectadores, digamos que o salão estava com apenas a metade de sua capacidade. Sentamos no meio da sala, onde a visão era excelente.
Com um saquinho de pipocas e uma conversa agradável, aguardamos o início da sessão.
Uma das cenas do filme, que me recordo bem, um jovem cavaleiro da Idade Média, cavalgava pela planície, próxima a um castelo, quando foi cercado pelos inimigos que o detiveram.
O castelo, típico mesmo da Idade Média, mostrava uma torre imensa de onde se podia ver uma pequena abertura, uma janela.  Todo ele era cercado por muros altos com fosso ao seu redor e uma ponte levadiça.
Foi para ali que nosso jovem herói foi levado. Após julgamento, como conhecemos bem, ele ficou prisioneiro na torre do castelo de onde, pressupunha-se, não havia como escapar.
Na torre, onde estava o prisioneiro, havia uma grande roldana de madeira. Nela estava enrolada uma corda muito comprida. O herói estava imaginando uma maneira de sair daquela torre e parece que aquela corda veio a calhar. Olhou pela pequena janela, onde não havia grades. A altura era grande. Olhou para a corda e novamente pela janela.
Colocou-lhe um peso na ponta e a atirou pela janela. A corda descia com rapidez e a roldana girava velozmente.
A câmara mostrava a roldana girando e a corda se desenrolando. A certa altura, faltava muito pouco para que a corda chegasse ao seu final, a expectativa era grande.
Quando faltavam apenas alguns centímetros para que a corda acabasse, os expectadores estavam num silêncio absoluto, Carmen ficou nervosa e gritou:
- Segura a corda, seu burro!
O cinema veio abaixo. Todos os presentes caíram na risada. Eu me afundei na cadeira e não sabia o que dizer. Ela logo percebeu a gafe, ficou vermelha e quis sair do cinema.  Pedi para aguardar o final do filme e respondi:
- Ninguém sabe quem é você e nem de onde veio. Então...
Saímos dali, como se nada houvesse acontecido.  Mas que foi engraçado, isto foi.

Claiter

17 de fevereiro de 2015

Assassinando a Língua Portuguesa - XX


Curiosidades: A Língua falada no Brasil - 31

Conhecer uma língua é uma forma de termos contato com as raízes culturais mais profundas de uma sociedade. A origem das coisas está na linguagem, na comunicação. Você sabe de onde veio a língua que você fala hoje?! Ela é uma grande mistura de várias outras línguas e histórias e culturas. Digo mistura de histórias e culturas porque a língua retrata a forma como uma sociedade vê o mundo. Ou seja, cada sociedade compreende a realidade à sua maneira. Por isso, na aprendizagem de uma segunda língua não fazemos apenas uma tradução do dicionário dela, mas é preciso entender um pouco da cultura daquele contexto em que ela é falada. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, lá em 1500, encontraram muitas dificuldades, disso já sabemos. Aqui estavam os nativos e com eles uma grande variedade de línguas. Só na região amazônica eram cerca de 718. É isso mesmo! 7-1-8 línguas indígenas!!! Podemos imaginar a dificuldade que os portugueses tiveram para estabelecer algum tipo de comunicação com os índios e realizar a tão sonhada catequese. Os portugueses não conseguiram aprender as nossas línguas, por causa da diferença dos sons e também da multiplicidade delas (afinal, eram mais de 718!). E daí começou a ideologia de inferioridade da língua dos índios, assim como sua cultura. A prática missionaria resolveu reprimir essas diferenças linguísticas e culturais. Hoje, ainda utilizamos algumas palavras de origem indígena, como arapuca, jabuti e moqueca, do Tupi. Mas, falamos essencialmente o português que veio de Portugal, cheio de influências do latim, grego, italiano, francês… Algumas palavras são criadas por aqui mesmo. Apesar de sabermos que a formação de palavras não é tão simples assim, é verdade que elas sofrem alterações ao longo do tempo e cada vez mais temos um “português brasileiro”. É extremamente importante resgatar as raízes culturais que de inferiores nada têm! E porque não começar pela origem, a linguagem
(Azeredo, J.C. Morfologia: construção gramatical da palavra. In:  Fundamentos de gramática do português). 

16 de fevereiro de 2015

Degraus ou degrais?


Um amigo me perguntou qual é o plural de "degrau" e de "troféu" e disse que viu uma placa onde estava escrito: cuidado com os degrais.
O plural de degrau é degrauS, como o de todos os vocábulos terminados no ditongo "au" - mingau, mingauS; luau, luauS.
O que deve ter atrapalhado a pessoa que escreveu essa preciosidade de cartaz é a semelhança fonética com os vocábulos terminados em "al", que fazem o plural em "ais": jornal, jornaIS; quintal, quintaIS. A mesma confusão às vezes se manifesta entre os terminados em "éu" e os terminados em "el": chapéu, chapéus; troféu, troféus; escarcéu, escarcéus; ilhéu, ilhéus; mas papel, papéis; tonel, tonéis.

13 de fevereiro de 2015

Escritos Escondidos

     Quando faço alguma faxina no meu escritório, acabo remexendo arquivos, caixas e pastas onde sempre encontro muitos escritos escondidos. Usei o termo  “escondidos”   por terem ficado um bom tempo esquecidos em um arquivo qualquer, até datilografados.

     Não sei se poderia chamar esses escritos de pérolas, mas, para mim, são tão valiosas por se tratarem de frases e versos com algumas palavras soltas que escrevi há tempos e que não tiveram uma conclusão ou, se concluíram, foram esquecidas no tempo.
     Ao redescobrir meus antigos escritos, não deixei de perceber algo de diferente neles. Olhava com estranheza o que estava escrito em cada poesia. Algo meio desencontrado, solto no ar. Refleti, refleti, e viajei de encontro ao meu eu no passado e foi extraordinário, embora certas lembranças seriam melhores se esquecidas.
     Esse reencontro comigo mesmo me fez entender o que eu havia escrito, da forma que havia escrito e o que queria dizer, pois sem essa conexão, continuaria a enxergar palavras desencontradas e desordenadas, mas com uma brutal sensibilidade e retratando com fidelidade a explosão de um coração verdadeiro e mais jovem.
     Hoje, porém, não me vejo como tempos atrás. Mas pude agregar e até mesmo cortar excessos, reformulando algumas poesias e crônicas e isso me deu um prazer enorme, talvez ainda maior do que no momento em que foram criadas.
     Na verdade essas poesias e crônicas não foram refeitas, foram lapidadas, pois a essência da sua criação permaneceu inócua em cada letra, cada frase. Como se o seu ponto mais valioso fosse revelado após a sua lapidação, fazendo com que a pedra brilhasse e refletisse o seu real valor.
     Coisas que esquecemos em um canto como um sentimento, um sonho, um ideal, um amor, um objeto, enfim, coisas que vamos jogando dentro de um baú e esquecendo em um canto empoeirado, úmido e mofado, mas que são verdadeiras pérolas e bem valiosas.
 Claiter
maio/2011

10 de fevereiro de 2015

Curiosidades: História ou estória? - 30

“Bom, estória nasceu três vezes. Primeiro, nos velhíssimos tempos em que escribas, escrivães e copistas, por ignorância ou economia, deixavam no tinteiro os agás latinos: aver, ou auer, omem ou ome, oje, ora... Depois, veio a Renascença cheia dos seus latins, e exumaram todos os agás enterrados. E a estória voltou a ser história”.

Depois? Depois veio o João Ribeiro (jornalista, filólogo, historiador,  1860/1934), e estória nasceu pela segunda vez (1919). Como o inglês tem story e history (“Stories are not History”), aquele escritor sugeriu o vocábulo arcaico estória, em terminologia de folclore, para conto da carochinha, lenda popular, etc.  Mas o vocábulo ficou em estado de incubação...
Depois? Bom, depois o arcaísmo nasceu pela terceira vez. Porque veio o Guimarães Rosa, para glorificar, imortalizar a ausência do agá: Primeiras estórias. Corriam os anos de 1962. “Primeiras estórias”... todos os fãs do mineiro imortal ficam absolutamente alucinados. E foi estória pra cá, estória pra lá, estória pra todos os lados. Uma epidemia. Perdão, uma glória... a estória. Deu-se até aquele comovente caso do plumitivo* de aldeia que projetou escrever a “Estória do Município de...”. Não digo o nome do município para não dar a pista do “estoriador”.
Bem, hoje estamos neste pé: escritor que se preza não escreve histórias, mas tão-somente estórias. Pelo menos assim fica tendo alguma coisa em comum com o gênio do Grande Sertão...  . 
Mas, falando sério: hoje há duas posições - 1ª) fazer a distinção entre história (o real, acontecido, datado) e estória (o fictício, a ficção) e 2º) manter uma forma única, com h, em qualquer sentido.
Eu? Sou da simplicidade, da não complicação: história. Em qualquer sentido. Afinal, ter mais de um significado é a sina da maioria das palavras. Hoje é o ‘dia corrente’ e o ‘tempo atual’: quem sabe, a gente opõe um hoje a oje?
Em odo caso, respeito o uso estilístico, pessoal, de estória."
(*) escritor ou jornalista sem méritos

(Celso Pedro Luft in “o romance das palavras”, ed. ática, 1996)

9 de fevereiro de 2015

De repente deu-me uma saudade...

De repente deu-me uma saudade imensa daquele tempo em que tínhamos menos preocupações, daquele tempo em que nossas mentes e almas estavam dedicadas e dirigidas apenas para o prazer e para a satisfação do outro. Não estou me queixando, apenas relembro os velhos tempos em que sorríamos com mais naturalidade, aquele tempo em que víamos mais graça e beleza em nossos passeios, aquele tempo em que o simples fato de estarmos juntos era, por si só, um programa maravilhoso. Acho que ficamos exigentes em demasia, acho que apanhamos a triste mania de procurar em lugares distantes, algo que talvez, esteja bem diante de nós. Resolvi escrever recuperar e escrever sobre os bons tempos porque, de repente, surgiu-me uma estranha nostalgia, uma nostalgia que dói, que machuca. Tempos que não voltam mais.
Saudades de familiares, os amigos, dos mestres das pessoas com quem partilhamos momentos de alegria e que, de repente, resolveram partir.  Foram embora para outras plagas ou para o além. Deixaram a saudade, mas uma bela lembrança dos bons momentos. O que aqui está escrito, são apanhados avulsos de longos anos, quando não me preocupava em colocar datas. Por isso estão completamente fora de ordem cronológica.


Claiter

Tenho saudades da minha infância   Saudades de tempos distantes, pessoas especiais, lugares inesquecíveis, cheiros e prazeres, reco...