29 de junho de 2011

Meu Primeiro Dia - II

EE Coronel José Bento - hoje
Ali estava eu, galgando os primeiros degraus que dava acesso à entrada da imponente escola. Olhei para trás. O coração saltou. Estava eu trocando a costumeira vida tranquila por uma responsabilidade ainda desconhecida.
Ao entrar no prédio, em forma de U, onde no centro se concentrava outras tantas crianças da minha idade, me senti perdido. Minha alma de criança principiou sua luta entre o sair e o ficar. Mas aquelas mãos meigas de  Dona Helena davam--me a coragem suficiente para enfrentar o novo mundo. Aquele sorriso - que permanece indelével na minha mente - empurrou-me para o então desconhecido, incentivando-me à luta.
Alguns momentos depois, entre gritos e algazarras, ouviu-se o toque do sino. Forte, decidido, fez com que as bocas se calassem. Em cada rosto, uma dúvida e um medo. Todos entramos em fila: cada turma, uma fila. De repente entra no pátio, com a voz imponente e forte, decidida, mas materna, de Dona Mariinha (Maria Passos Vinhas) - a Diretora.
Morena, baixa, cabelos curtos, impecavelmente vestida. Uma saia azul e uma blusa branca de mangas compridas.
- Atenção, crianças. Boa tarde! Sejam bem vindas à nossa escola.
Então já nos acalmamos. Havia 8 professoras, lado a lado, com as mãos para trás.   Olhavam-nos firmes, com sorriso nos lábios e no rosto transparecendo calma e carinho.
- Vamos formar as filas, de acordo com a chamada. Vocês vão ficar à frente de cada uma de suas  professoras que  serão anunciadas agora.
Meu coração disparou. Eu queria ficar com Dona Helena. Eu queria. A cada nome pronunciado, meu coração disparava.
- Agora, atenção. Alunos da professora Helena, formarão fila de frente dela. Vamos começar a chamada.
Não, acho que eu não ia aguentar. Meu coração saltitava. Minha apreensão era muito grande. Eu não queria em momento algum ser decepcionado. Queria ser aluno dela, só dela.
- Ailton, Antônio, Brenda, ...
A cada nome, meu coração pulava. E D. Mariinha continuava citando nomes. Meu pensamento voava para distante daquilo. Era a primeira vez que eu sentia a sensação de estar perdido, sem saber o que fazer.
- Cláudia, Édson, Fernanda, Ismael...
Eu tinha vontade de gritar “ei, me deixa ficar nessa fila”, mas as palavras paravam na minha garganta e se recusavam a sair.
- José Carlos, José C...
Ah!, meu Deus! Ela disse meu nome. Meus olhos se encheram de lágrimas. Lágrimas de alegria, lágrimas teimosas. Eu tinha vontade de sair pulando, gritando e mostrando a todos que eu havia conseguido: ser aluno de Dona Helena.
Depois de todas as crianças serem distribuídas em filas e cada uma com sua respectiva professora, D. Mariinha ainda falou:
- Vamos, agora, agradecer a Deus por tudo que nos tem feito e pedir a Ele que nos abençoe em nosso primeiro dia.
A  seguir, todos contritos, rezamos as orações do Pai-nosso e  Ave-maria! Nunca havia rezado com tanta convicção e alegria.
E fomos para a sala de aula...

Curiosidades: O que significa o termo "Católico"? - 7


Etimologicamente a palavra latina catholicus deriva do grego katholikós, termo usado por filósofos, como Aristóteles, como sinônimo daquilo que é "o mais universal ou geral", em contraste ao "particular e local". A palavra grega veio do advérbio katholou (em geral, em absoluto), composto de kat- (de, acerca de), mais -holou (todo, inteiro). Os primeiros cristãos não usavam o termo para designar sua religião. A noção de uma Igreja universal veio mais tarde, muito provavelmente citada numa carta de um bispo de Antioquia chamado Inácio e absorvida como signo da universalidade cristã no século 4º, após o concílio de Constantinopla, em 381, para referir-se a uma Igreja unificada, universal (portanto, católica) e apostólica. Concluindo: católico = universal (Língua Portuguesa Especial: Etimologia, a origem das palavras, nº 2, março 2007, p.49)

21 de junho de 2011

Dificuldades da Língua Portuguesa - XII

Um leitor me escreveu dizendo que leu, num determinado jornal, a frase: “Ordem e Progresso. Aonde?”. Disse, ainda, estar em dúvidas quanto ao emprego da palavra “aonde”.

Vamos entender, inicialmente, o seguinte:
AONDE é o resultado da união da preposição “a” mais o advérbio de lugar “onde”. Esta preposição pode ser substituída por “para”,  portanto AONDE significa “para onde”.  Exemplo: Aonde você vai? (Para onde você vai?)  O “a” da palavra “aonde” nos dá ideia de movimento, destino. Isto quer dizer que devemos empregá-la apenas em situações em que houver essa ideia.  Geralmente usada com verbos desta natureza: ir, caminhar, dirigir, chegar, etc.   -   A palavra ONDE indica lugar, lugar físico e, portanto, não deve ser usada em situações em que a idéia de lugar fixo não esteja presente.
Em resposta à questão proposta, o emprego de AONDE na frase citada pelo consulente, sob o ponto de vista culto, gramatical, está incorreta. O certo seria ONDE.  Mas, a confusão em relação ao emprego de ONDE e AONDE se faz presente em nossos dias, principalmente nos programas de TV, rádios, jornais e até nos discursos de nossos políticos ditos tão cultos.  Tornou-se, praticamente, uso corriqueiro. Mas não correto. Vamos mais alguns exemplos:
Onde estás?  Você sabe onde fica a casa dela? Onde moram os sem-terra?  Não entendo onde ele estava com a cabeça quando falou isso. De onde você está falando? Não sei onde me apresentar nem a quem me dirigir.  Aonde você vai todo dia às 9 horas? Sabes aonde eles foram? A mulher do século 21 sabe muito bem aonde quer chegar. Não sei aonde ou a quem me dirijo. Aonde nos levará tamanha discussão?  Estavam à deriva, sem saber aonde ir.  Há lugares no universo aonde não se vai sozinho.  Voltei àquele lugar aonde minha mãe me levava quando criança.

17 de junho de 2011

Meu Primeiro Dia - I

EE Cel. José Bento - hoje
Pela primeira vez eu iria à escola. Tinha 6 anos. Um corpo ainda por moldar, uma vida que se iniciava. Naquele dia, início de março, com uma calça curta azul, camisa branca, todo orgulhoso, minha mãe penteava meus cabelos ainda loiros e brilhantes. O rosto suave e a alma apreensiva, imaginava o que estava por vir.
A teimosia em manter a blusa para fora da calça, levou minha mãe a ficar brava comigo. Naquela braveza mais se notava ternura e amor do que sentimentos raivosos. Obedeci. Olhei para o relógio. Era meio-dia. Faltava apenas meia hora.
O coração de criança pulava no peito anunciando o momento da estreia. Meus olhos brilhavam fitando o rosto dela. Aquela mulher durona, mas meiga; brava, mas cheia de amor; cansada, mas pronta para continuar sua luta.
Naquele instante recebi um abraço e um beijo carinhosos, acompanhados da serenidade brotada daquelas palavras: “Vá com Deus, meu filho!”
A bolsa preta segura pelas mãos leva os objetos de trabalho: caderno, cartilha, lápis e borracha. Notava-se nela uma saliência: era um sanduíche (pão com queijo e açúcar). Ele seria meu sustento durante o período em que eu ficaria confinado naquela escola pela primeira vez.
Desci as escadas um tanto apreensivo mas alegre. Conheceria novos amigos. Ao chegar na esquina, lá estava ela: a professora. Era minha vizinha e já a conhecia. Conhecia seu carinho, sua meiguice, seu sorriso franco e encantador:
Dona Helena. Que graça.
De braços abertos me recebeu e me beijou. Pela primeira vez, me beijou o rosto com um carinho indescritível. Segurou-me a mão e do seu lado esquerdo uma garotinha, da mesma idade que eu, cujo nome a memória se recusa a lembrar. Lá fomos para um mundo ainda desconhecido. Subimos conversando, eu ainda na minha timidez. Atravessamos a Praça Getúlio Vargas e cruzamos ruas. Ao chegarmos na Praça da Bandeira, visualizei imponente o prédio do Grupo Escolar Coronel José Bento. Que lindo! Parecia um castelo de sonhos, onde, no seu interior, estivessem me esperando um mundo de fantasias, princesas e fadas.
Paramos na entrada. No prédio havia dois pátios: à esquerda pertencia às meninas; à direita, aos meninos. Em ambos, mostrando sua suntuosidade, duas grandes árvores que, a partir daí, seriam palco de minhas aventuras.
O mundo se abria à minha frente.

7 de junho de 2011

Curiosidades: De onde surgiu a expressão "pé-rapado"? - 6


A expressão usada para indicar um sujeito sem dinheiro tem a ver com o ato de raspar no chão a sola do pé sujo, gesto de quem anda descalço. No século 17, em poesia feita para Anica, mulata de quem gostava e que lhe pedia dinheiro para comprar sapatos, o poeta Gregório de Matos escreve: “Se tens o cruzado, Anica, / manda tirar os sapato, / e se não, lembre-te o tempo / que andaste de pé rapado.”  No século 18, o termo era muito usado pela aristocracia. Segundo consta do livro De Onde Vêm as Palavras II (Deonísio da Silva), pés-rapados eram o trabalhadores das lavouras e das minas. Mas, por um momento, nem os ricos se livraram da pecha. Na Guerra dos Mascates (1710-1711), os portugueses chamavam os aristocratas rurais de Pernambuco de pés-rapados por combaterem sem botas.  (De Onde Vem as Palavras – Deonísio da Silva; Aventuras na História , ed. Abril, nº 95, pág. 23)

Tenho saudades da minha infância   Saudades de tempos distantes, pessoas especiais, lugares inesquecíveis, cheiros e prazeres, reco...