29 de janeiro de 2013

Assassinando a Língua Portuguesa - XIX

 " ...amigos e amigas em fevereiro vamos contar muitas historias e vamos fazer muitas reportagens do sobrenatural ´´em alfenas em breve eu paulo e meu parceiro pingo vamos mostrar muitas fotos antigas e relatos verdadeiros você vai se súprieender ´´aguárdem em breve aqui na rádio..."
(Facebook, acessado em 29/1/2013)
 
[concordância, pontuação, acentuação, ortografia.... tanto erro em tão pouco)
 
As postagens de "Assassinando a Língua Portuguesa" são cópias fiéis do que foi (está) publicado em jornais, revistas, rede social,  comentários, etc. A intenção é apenas mostrar o "descuido" e a falta de cultura da Língua Portuguesa ou o descaso que se faz dela. Não tenho, em hipótese alguma, a intenção de criticar ou denegrir a imagem da publicadora.

28 de janeiro de 2013

Fazenda Mato Dentro


Lá se foram os anos. E meus pensamentos divagam. Nesta viagem, retornei ao passado e me deparei pedalando pela estrada que leva a Machado. Estrada sim, pois ainda não havia asfalto.
      A bicicleta, um modelo argentino, leve, de alumínio, freio contrapedal, levava na garupa o Jucelino, amigo de longa data.
     Ainda jovem,  o esforço físico não me deixava  cansado ou ofegante. Lá íamos, apreciando a natureza, em meio a poeira que os carros deixavam, mas felizes, dando gargalhadas, contando causos.
      O destino era a Fazenda Mato Dentro, a 5km de Alfenas, de propriedade do amigo Genaro Paulino, de saudosa memória.
     Aquele casarão se destacava no vale aconchegante, cheiro de mato e de gado. As árvores frondosas, pareciam nos dar boas vindas. A bicicleta corria entre os arvoredos que circulavam aquela estrada campestre. Seu galhos balançavam suavemente ao som dos ventos, que sopravam em nossos rostos juvenis.
     O pomar logo se destacava aos nossos olhos, com seus frutos maduros e variados. Todo tipo de fruta ali estava à nossa espera.
     O casarão que sempre nos via chegar com suas paredes de taipa, suas grandes janelas e portas azuis, sempre abertas, nos convidava a entrar em seu interior.
     Salas e quartos enormes. Aquela saleta, próxima à cozinha, era nosso recanto para os jogos de cartas. Foi ali que Genaro me ensinou a jogar truco.
     Quantas e quantas tardes e noites passamos ali entre risos, gritos e alegrias. Genaro, com toda sua paciência, ensinava-me os truques do truco. Que saudades!
     Descíamos por uma escada que saía da cozinha, em direção ao pátio. Naquele pátio cimentado um grande viveiro. Eu ficava algum tempo olhando a variedade de pássaros ali criados. Os canários eram os que me chamavam mais a atenção, com suas asas amarelas cor de ouro que, ao refletir sob o sol, brilhavam.
     Sanhaços sobrevoavam as laranjeiras e outras árvores frutíferas. Segundo Genaro Paulino, “eram as pragas do pomar”.
     Saíamos os irmãos José Augusto (Gordo), Manuel (Menino), Mário, e Carlinhos, além do Jucelino e eu para os pomares. Espingardinha de chumbo, íamos à caça dos tais sanhaços.
     Conseguíamos caçar entre 3 a 4 numa tarde. Todas as vezes que um pássaro caía, um de nós gritava: “traz o gato”.
     E lá vinham aqueles gatos pardos atrás da caça. Sempre que íamos à fazenda, os gatos nos acompanhavam à espera de suas refeições.
     Dona Olinda, esposa de Genaro, a quem carinhosamente eu chamava e chamo de “tia Olinda”, nos esperava para almoçar.
     Refeição de roça... hmmm.... uma delícia. Seu frango caipira era de dar água na boca. O angu, o quiabo, o feijão novo, tudo uma delícia, sem contar a salada bastante rica e variada. O sabor das refeições ainda as sinto.
     À tarde saíamos a cavalo pelos campos da fazenda, sempre acompanhado de José Dutra. Zé Dutra, como o chamávamos, sempre com sorriso nos lábios e dono de uma paciência invejável.      Adorava futebol. Era um dos membros da diretoria do América F.C. Justa a homenagem dando seu nome a uma das ruas de Alfenas. Seu nome era José Delmiro dos Santos. Até hoje não sei o porquê de “Zé Dutra”.
     Um grande amigo e companheiro das tardes de truco na Fazenda Mato Dentro.
     Durante quase toda minha adolescência frequentei aquele lugar maravilhoso que não sai de minha memória. Não só pelos lindos lugares, mas, sobretudo, pela família Paulino da Costa. Ela fez parte de minha vida. Que saudades!
     - Traz o gato!

10 de janeiro de 2013

Oração Interrompida

Por: Júlio César da Paz
      
       Já passava das 18 horas quando o Zé Broinha cruzou a Praça Getúlio Vargas em direção à Matriz. A loja do Seu Duca, como todos os dias, encerrava o expediente àquela hora. Fechar alguns minutos antes, impossível! Fazer o quê se aquele trabalho era uma bênção e se o dinheiro no fim do mês chegava sem atraso? O proprietário – um segundo pai – era amável, generoso... Mas o salário de sacristão também ajudava, além, é claro, da satisfação em servir à paróquia e a convivência com os padres e os leigos.
       Ouvir os resmungos do Padre Aloísio quase esfriava o prazer do serviço, principalmente quando, fugindo aos argumentos do sacristão, ordenava sem pena:
       “– Quero a igreja aberta às dezoito horas. Quando a primeira alma se ajoelhar para a reza do terço, que todas as luzes sejam acesas, que o altar esteja preparado com os objetos litúrgicos e os sinos toquem, convidando para a missa.”
       Essas palavras faziam tremer o Souza, que corria feito um louco para não contrariar o vigário. Indiferente ao drama do sacristão-balconista, eu, ainda adolescente e despreocupado, ficava à espera dele e acompanhava seus passos apressados para puxar a corda do “Paulino” – o sino da Matriz que me dava tanta alegria quanto bolhas em tirar-lhe o som. Também me deliciava com as doidices da Tereza, nossa querida e indomável cantora, companheira permanente do Zé, que só se deixava irritar se o assunto fosse a Rosária Carvalho ou algo relacionado à sua idade.
       Naquela tarde fria de julho, ela nos acompanhava – vestido azul, xale branco e um embrulho (Deus sabe de quê) nas mãos – trazendo as últimas notícias que colhera na rua quando vinha para a Matriz.
       - Escute, José! O Beg vai se candidatar? Pois é...Vai. E o meu voto é dele, claro! O homem é bom! O assessor dele me contou que ele vai arranjar abrigo pros cães de rua. Ah! Isso é que é coração, não acha, José?
       Ofegante, já subindo a escadaria, Souza concordava com monossílabos e acenos de cabeça mal planejados, praguejando, disfarçadamente, contra a única mulher que o estava esperando para acender as luzes da igreja – a popularmente conhecida Dona Chata. E a Tereza prosseguiu:
       - Mas, o Hesse também é bom! Ah! É muito bom! Pensando bem, meu voto será dele se candidatar-se novamente. Sabe o que me disseram, José? Que ele vai reformar essa praça aí, inclusive a Fonte Luminosa. Que beleza, não é? Essa fonte merece uma restauração. E, pensativa exclamava – Taí! O meu voto é do Hesse!
       E o José, agora, entra na Matriz com pressa e as sandálias a sair-lhe dos pés. Já ouvira uma voz feminina anunciando o primeiro mistério do terço. Lá no fundo, a silhueta era perceptível, graças à luz diáfana que adentrava os vitrais. Para variar, a voz trêmula e a figura magra eram de dona Chata, que comungava diariamente e fazia questão de estar no templo desde àquela hora da tarde. Isso deixava mais aflito o sacristão, acrescentando, é claro, à tagarelice pertinaz da Tereza que não lhe dava trela.
       Entramos os três na sacristia. Souza foi logo acendendo as luzes. Tereza passou reto e foi ao espelho do armário antigo. A peruca pendendo para um lado, deixando ver a mecha branca do cabelo natural. Vaidosa, tirou um pente de osso da bolsa e foi pentear-se, como se estivera num salão de beleza. Quebrou o silêncio, parolando:
       - José, faz anos que, todos os dias, ao entrar na igreja, me deparo com a Dona Chata rezando o terço, quietinha, quietinha. Que mulher santa, não é?! Admirável! Nunca vi tanta fé, tanta piedade numa só pessoa. Você já viu algo assim?
       Malicioso, a ficha do Zé Broínha caiu e, pela primeira vez, ele pôs atenção na fala da Tereza, fazendo-se todo ouvidos e, logo, emitiu seu parecer:
       - Se acho!! Boníssima, esta Dona Chata! Acho mais...Acho não, tenho certeza. Ela tem muito respeito por você.
       - Não diga! Não sabia!!
       - Verdade! Ainda ontem ela me falava de você quando nos viu entrar na Igreja!
       -Estou curiosa! O que foi que ela disse?
       - Ah, ela disse muitas coisas boas a teu respeito. Disse: “– Olha, José, adoro esta mulher que chegou aí com você! É uma excelente cantora, essa Rosária...”
       - Rosária?? Que Rosária?
       - Você! Ah, desculpe-me! Já ia me esquecendo... Ela confunde você com a Rosária Carvalho.
       - Essa mulher está ficando louca?! Canto infinitamente melhor que a Rosária e não me pareço isso aqui com ela...
       Visivelmente contrariada, Tereza pôs-se a morder os lábios – péssimo sinal! O Sacristão, seguro de que se plano não falharia, continuou:
       - Ela me disse, também, que você merece um prêmio pelo bem que faz às crianças e aos animais.
       - Bom, isso ela tem razão. Nunca deixei de cuidar das criancinhas e dos bichinhos da rua e...
       - ... e dela também. Não sabia que você havia cuidado de Dona Chata quando ela ainda era criança, Tereza! Elam me disse isso com lágrimas nos olhos...
       - O quê?? Como cuidei dessa doida? Sou muito mais nova que ela, tenho pouco mais que cinquenta anos...Ela é que é uma velha caduca!
       - Acho que não! – Respondeu o Zé, malicioso. Está completamente lúcida. Lembra-se até que você trabalhou para os padres e que é funcionária dos Pimenta.
       - Isso é demais! Estou me sentindo ofendida. E agora chega! Vou mostrar a essa Chata quem é que sou, de verdade.
       Abriu com fúria a porta da sacristia e desceu os degraus, impaciente.
       Lá embaixo, no primeiro banco, Dona Chata intercalava seu Glória ao Pai com bocejos infinitos, sem perceber a presença da Tereza que chegou pela lateral. Puxando o fio da ladainhas, a cantora interpelava a mulher orante:
       - Então é verdade o que ouvi do José, Chata?
       - Falou comigo, Dona Tereza?
       - Agora é Dona Tereza...Mas, antes, era Rosária Carvalho!!
       - Não estou compreendendo, dona...- e esboçou um sorriso amarelo.
       - Está compreendendo sim, e muito bem! E não me chame de Dona. Sou bem mais nova que você.
       - O que foi que eu fiz?
       - Nada! Apenas me confundiu com uma cantorazinha de terceira e anda dizendo por aí que sou idosa. Mas velha é você! E caduca. Me esqueça, sua chata...
       - Senhor, tende piedade de mim! Eu não fiz nada disso, Dona Tereza, inclusive eu...
       Antes de terminar, um beliscão pôs termo à jaculatória. Sem ouvir os argumentos da outra, Tereza saiu do banco, a alma lavada e a vingança consumada. Entrou na sacristia enquanto eu saía com a chave da torre, mal podendo esperar para puxar as cordas do sino. Passei devagar pelo banco onde estava Dona Chata e fiz genuflexão, quando a ouvi comentar baixinho com uma senhora que acabara de se ajoelhar a seu lado:
       “– Esta cidade está cada dia mais perigosa, muita gente louca solta por aí! Aquela doida – apontou o dedo para a sacristia, de onde se via ao longe a cantora – aplicou-me um beliscão e me disse um tanto que até agora não entendi. Olha o meu braço – e estendeu-o, para mostrar à outra o sinal da beliscadura. – Continuarei frequentando a missa das sete, mas, o terço, vou rezar em casa antes de vir para cá.”
       Minha garotice me fez apressar o passo e tentei conter o riso. O Souza...? Este conseguira marcar mais um ponto nas suas maluquices com a ajuda da Tereza.
       Os dias que se sucederam foram absolutamente tranquilos. O Zé Broinha deixava o emprego às 18 horas e traçava com calma seu itinerário até a Matriz.
       Tereza namorava a Fonte Luminosa, enquanto esperava pelo sacristão com as últimas notícias do dia e com sua indecisão às vésperas das eleições.
       Dona Chata?... Bem! Dona Chata agora rezava seu rosário na porta da casa paroquial e adentrava a Igreja sempre na companhia do vigário, a protestar “– Não se pode mais sair nesta cidade sozinha! Tem muita gente louca solta por aí!...Só gente louca!...”

2 de janeiro de 2013

Dificuldades da Língua Portuguesa - XXVI


A ANOS / HÁ ANOS
            Na indicação de tempo, emprega-se para indicar passado; e a para indicar futuro.
            dois meses que ele não aparece. Daqui a dois meses ele aparecerá.

A FIM DE / AFIM
            A fim de é uma locução prepositiva que indica finalidade.
            Ele saiu a fim de poder chegar a tempo.
            Afim, que é adjetivo, significa “semelhante”, “por afinidade”.
            O genro é um parente afim. Trata-se de idéias afins.

A GENTE VAI
            Não há inconveniente algum em usar a expressão a gente para designar quem está falando
(eu ou nós), desde que se deixe o verbo no singular.
            A gente vai sair mais cedo hoje. A gente não conhece nada disso.

A JANTA ESTÁ NA MESA.
            Prefirao jantar: O jantar está na mesa. Janta é próprio de gente inculta.

A NÍVEL DE / AO NÍVEL
            A nível de é um modismo linguístico, uma expressão desnecessária. Evite seu uso.
            Existe, porém, a expressão ao nível, que significa “à mesma altura”.
            Santos está ao nível do mar.

A PAR / AO PAR
            A par é usado, normalmente, com o sentido de “estar bem informado”, “ter conhecimento”.
            Após a confissão, ficamos a par de tudo.
            Ao par é usado para indicar equivalência cambial.
            O dólar e a libra estão ao par .   (isto é, têm o mesmo valor).

Tenho saudades da minha infância   Saudades de tempos distantes, pessoas especiais, lugares inesquecíveis, cheiros e prazeres, reco...