20 de abril de 2011

Ela era assim

Austera, meiga, condescendente, olhar sério, exigente, despontava um sorriso natural. Afinal, assim era ela. Fazia transparecer em seu rosto os mais diversos sentimentos, antagônicos, porém sinceros. Era o momento, tudo  dependia do momento.  Poder--se-ia enxergar naquele rosto o que desejasse. Tudo dependia de quem o olhava. O respeito se fazia presente quando ela nos chamava para algumas admoestações.
Queria seus filhos sendo “gente” e os defendia a todo custo, ao mesmo tempo  em que era a mais exigente das  criaturas. Defini-la seria impossível. Não sabíamos se a temíamos ou se a amávamos. Perdoava sempre nossas falhas, mas jamais a repetição dos mesmos erros. Não nos queria como os melhores, mas fazia absoluta questão que estivéssemos entre eles.
A honradez e a honestidade sempre foram sua bandeira. Vivia intensamente as palavras bíblicas: “a César o que é de César”.
Lutou como uma guerreira, conquistou seu lugar e um lugar para seus filhos. Era assim.
Aos nossos olhos se transformou numa heroína.
A vida foi cruel com ela durante um bom tempo, mas jamais se deixou abater diante das dificuldades e não nos permitia que desanimássemos. A luta pela vida não tem fuga, é preciso enfrentá-la e, acima de tudo, vencê-la. Esse era seu lema e o transmitiu aos que ela amou.
Diante de sua  máquina de costura  criava a arte.  Era uma exímia bordadeira que conseguiu fama, respeito e admiração de todos. Seus trabalhos eram dons, de suas mãos saíam, não  apenas os afagos, mas também a arte. Era uma arquiteta na arte de bordar.
Desse seu trabalho saía o sustento de sua família e a educação de seus filhos. E como soube educá-los!
Mulher, mãe, amiga,  educadora,  assim  era ela.
Viveu  o bastante para ver seus filhos vencerem. Viveu o bastante para ver seus netos e bisnetos. Viveu para a vida! Viveu para a família. Viveu seus 83 anos de luta, mas venceu!
D. Gecelda, carinhosamente conhecida como Dona Paula.
Minha mãe.

J. C. Paula

14 de abril de 2011

Assassinando a Língua Portuguesa - 5

Em um dos jornais online:


]vamos envestigar a alternativa q despensou mais de 500 pessoas nesta semana e sumiu todos os representante legal.
xxxxxx@hotmail.com
alfenas-mg
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O “verdade” quando lembro do dr .... lembro em mega operação, lembro em trabalho lembro em turco preso, lembro em helicóptero sobre voando Alfenas. cade o turco... cade as mega operaçao. e sem duvidas dr .... de trabalhos para os bandido.
xxxxxxx@gmail.com
alfenas-mh

Obs.: Não se consegue corrigir o texto. É demais.

12 de abril de 2011

Entrevista no Jornal dos Lagos

Jornal dos Lagos - edição 2661 - 16/3/2011 - página 3.  Acesse:

http://www.jornaldoslagos.com.br/jlagos/dat/doc/iptu6.pdf

Dificuldades da Língua Portuguesa - X

Presidente ou Presidenta?

Muitos ainda fazem esta pergunta.

Muita gente ficou confusa nas últimas eleições. As palavras direcionadas à candidata do Dilma Roussef, presidente e presidenta, só fizeram mais confusão na cabeça dos brasileiros. Alguns sempre souberam do termo certo, outros tinham certeza de que “presidenta” não existia porque foi ensinado assim, mas de uma hora pra outra começaram a ler nos jornais. E ai, surgiu a dúvida. Qual é o certo? Tanto faz. As duas formas, linguisticamente, são corretas e plenamente aceitáveis. A forma PRESIDENTA segue a tendência natural de se criar a forma feminina com o uso da desinência “a”: menino e menina, árbitro e árbitra, brasileiro e brasileira, elefante e elefanta, pintor e pintora. Na língua portuguesa, temos também a opção da forma comum aos dois gêneros: o artista e a artista, o jornalista e a jornalista, o atleta e a atleta, o jovem e a jovem, o estudante e a estudante. Há palavras que aceitam as duas possibilidades: o/a chefe ou o chefe e a chefa; o/a parente ou o parente e a parenta; o/a presidente ou o presidente e a presidenta. Cristina Kirchner, da Argentina gosta de ser chamada de La Presidenta. É interessante observar também que formas como chefa e parenta ganharam no português do Brasil uma carga pejorativa. Mas, deixemos que cada um escolha sua forma preferida. Eu, particularmente, prefiro A PRESIDENTE.

7 de abril de 2011

Eu não sou o pai

Naquela noite, 31 de maio de 1980, sentado no sofá da sala,  assistindo a um  filme bastante atraente. Um policial daqueles em que o mistério se faz transparecer em todas as cenas.
Claire dormia com a cabeça no meu colo, ressonando um sonho bom de criança. Sonhava, talvez, com seu mundo infantil, seus amigos, seus brinquedos e seus desejos de princesa. Para mim, ela era a verdadeira realeza. Minhas mãos corria por entre seus cabelos finos e castanhos. Em seu rosto um sorriso de aprovação pelo carinho do pai. Pai que, por sinal, muito coruja, orgulhoso e feliz. Eu trazia no peito a alegria infinita e a Deus agradecia aquele e tantos outros momentos. Meus olhos alternavam entre o filme e aquela criaturinha.
Nós morávamos então numa travessa da rua João Luiz Alves. Na casa ao lado, nosso amigo e companheiro de tantos anos e de tantas infâncias - Jucelino, sua esposa e filhos. Ele a quem até hoje chamo de irmão. Sua esposa estava grávida pela terceira vez. Naquele dia, Jucelino havia viajado para São Paulo. Genoveva, este é o nome dela, ficou em casa com os filhos.
Aquele momento calmo e bom foi interrompido por pelo som insistente da campainha.
Era Gustavo, o filho mais velho de Jucelino.
- Tio Claiter (ele me chamava assim), mamãe está passando mal.
- O que houve? perguntei num sobressalto.
- Acho que o bebê vai nascer.
Tirei rapidamente o carro da garagem (um Brasília do ano). Chamei minha esposa e a levamos para a Santa Casa. Durante o trajeto, Genoveva falava entre as contrações e dores do parto:
- O bebê está nascendo...
- Ah! Meu Deus! falei. Aguente um pouco...
- Rápido, acho que não vou aguentar.
Nem sei como atravessei ruas e quarteirões. Só sei que enfim chegamos. Carmen correu à minha frente enquanto eu ia devagar escorando a parturiente que segurava a barriga com as mãos.
Fomos atendidos imediatamente. Enquanto realizava-se o parto, eu fiquei nervoso andando pelo corredor do hospital e Carmen procurando me acalmar.
Que susto!
- Não fique assim  tão nervoso - disse uma freira aproximando-se de mim.  O bebê já nasceu, é uma bela menina. Parabéns, papai.
Assombrado, olhei para a freira e ainda um pouco nervoso respondi.
- Mas eu não sou o pai da criança...
Toda  vermelha de vergonha, a freira se  retirou  desculpando-se. E nós? Rimos muito naquela madrugada.
         Raquel havia nascido. Linda e forte.

J. C. Paula

6 de abril de 2011

Dificuldades da Língua Portuguesa - IX

O caso do hífen

Um ex-aluno, hoje morando em Belo Horizonte, pergunta: Escrevo:
anti-sequestro ou antissequestro?

O prefixo anti- só é empregado com hífen, quando a palavra seguinte começar pela mesma vogal (i) ou por h. Anti-horário; anti-hipnótico;  anti-imperalismo; anti-infeccioso;  anti-inflamatório. Quando a palavra seguinte iniciar por R ou S, essas consoantes serão dobradas: antirrábico; antirracista; antissequestro; antirreumático; antissocial; antisséptico. O mesmo se dá com outros prefixos como: auto, contra, micro, arqui, etc.  autoadesivo, autoacusação;  contrabaixo, contracapa;  microcirurgia, microcâmera; arquibancada, arquimilionário; anti-ibérico, anti-inflação, auto-observação, contra-ataque, micro-ondas, arqui-inimigo, micro-ônibus, anti-inflamatório, auto-oscilação.    Mas, se a palavra seguinte iniciar com a mesma consoante, o hífen será obrigatório:  hiper-requintado, inter-racial, sub-bibliotecário, super-racista, super-romântico, inter-relação, sub-base, hiper-realismo

Dificuldades da Língua Portuguesa - VIII

Um amigo pergunta:  Como se diz: Vende carro ou Vende-se carro?

Uma questão de regência e concordância
Em primeiro lugar o verbo vender é transitivo direto.  Na primeira frase, é necessário determinar o sujeito: quem vende?  A frase fica obscura por falta do agente da ação verbal.  No segundo caso, temos o sujeito carro e a frase está na voz passiva sintética. Ao se transferir a frase para a voz passiva analítica, temos: Carro é vendido. Portanto, carro é sujeito nos dois casos. Voz passiva analítica é quando o verbo ser (flexionado) é acompanhado  do verbo principal no particípio.
A partícula se, presente após o verbo, é denominada de partícula apassivadora ou pronome apassivador, pois é possível o verbo na voz passiva analítica. Concluímos, então, que o verbo deve, como regra geral, concordar com o sujeito em número e pessoa. Exemplos: Vende-se casa; vendem-se casas; aluga-se carro; alugam-se carros. Como vimos: casas são vendidas  e  carros são alugados; casa é vendida e casas são vendidas. Este fato não acontece com verbos transitivos indiretos, onde o se passa a ser denominado de índice (ou partícula) de indeterminação do sujeito, porque a voz passiva analítica não será possível. Daí o uso do plural ser indiferente: Precisa-se de empregado(s); Precisam-se de empregado(s). Nestes exemplos, o termo empregado(s) é objeto indireto e não sujeito. Não posso dizer que empregado é precisado ou são precisados. É necessário que se tenha conhecimento de regência verbal. 
Concluindo, frases como: passa-se roupas; digita-se trabalhos; vende-se apartamentos estão erradas.

3 de abril de 2011

Por que escrevo?


Um dia a gente acorda e senta na cama
Imagens desconexas, outras nem tanto
E vem a inspiração para os poemas
São dias em que só há melancolia
Lembranças de um passado já distante
Que insiste em nos lembrar o que esquecemos
Porta-retratos expostos na estante
A paixão que nos tirou da seriedade
A traição que nos fizeram por maldade
Histórias que fizeram nossa história
E que nem sempre moram na saudade
Então escrever é o que eu faço
Tentando me livrar desses fantasmas
Me viro do avesso na poesia
E nascem estes poemas cabisbaixos.

J. C. Paula

Tenho saudades da minha infância   Saudades de tempos distantes, pessoas especiais, lugares inesquecíveis, cheiros e prazeres, reco...