7 de abril de 2011

Eu não sou o pai

Naquela noite, 31 de maio de 1980, sentado no sofá da sala,  assistindo a um  filme bastante atraente. Um policial daqueles em que o mistério se faz transparecer em todas as cenas.
Claire dormia com a cabeça no meu colo, ressonando um sonho bom de criança. Sonhava, talvez, com seu mundo infantil, seus amigos, seus brinquedos e seus desejos de princesa. Para mim, ela era a verdadeira realeza. Minhas mãos corria por entre seus cabelos finos e castanhos. Em seu rosto um sorriso de aprovação pelo carinho do pai. Pai que, por sinal, muito coruja, orgulhoso e feliz. Eu trazia no peito a alegria infinita e a Deus agradecia aquele e tantos outros momentos. Meus olhos alternavam entre o filme e aquela criaturinha.
Nós morávamos então numa travessa da rua João Luiz Alves. Na casa ao lado, nosso amigo e companheiro de tantos anos e de tantas infâncias - Jucelino, sua esposa e filhos. Ele a quem até hoje chamo de irmão. Sua esposa estava grávida pela terceira vez. Naquele dia, Jucelino havia viajado para São Paulo. Genoveva, este é o nome dela, ficou em casa com os filhos.
Aquele momento calmo e bom foi interrompido por pelo som insistente da campainha.
Era Gustavo, o filho mais velho de Jucelino.
- Tio Claiter (ele me chamava assim), mamãe está passando mal.
- O que houve? perguntei num sobressalto.
- Acho que o bebê vai nascer.
Tirei rapidamente o carro da garagem (um Brasília do ano). Chamei minha esposa e a levamos para a Santa Casa. Durante o trajeto, Genoveva falava entre as contrações e dores do parto:
- O bebê está nascendo...
- Ah! Meu Deus! falei. Aguente um pouco...
- Rápido, acho que não vou aguentar.
Nem sei como atravessei ruas e quarteirões. Só sei que enfim chegamos. Carmen correu à minha frente enquanto eu ia devagar escorando a parturiente que segurava a barriga com as mãos.
Fomos atendidos imediatamente. Enquanto realizava-se o parto, eu fiquei nervoso andando pelo corredor do hospital e Carmen procurando me acalmar.
Que susto!
- Não fique assim  tão nervoso - disse uma freira aproximando-se de mim.  O bebê já nasceu, é uma bela menina. Parabéns, papai.
Assombrado, olhei para a freira e ainda um pouco nervoso respondi.
- Mas eu não sou o pai da criança...
Toda  vermelha de vergonha, a freira se  retirou  desculpando-se. E nós? Rimos muito naquela madrugada.
         Raquel havia nascido. Linda e forte.

J. C. Paula

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