17 de junho de 2015

Saudades de Você


Passando pelo Banco do Brasil, vi um senhor conduzindo pelas mãos uma garotinha. Devia ter ela uns 5 ou 6 anos. Mas o ar de alegria e felicidade que brotava de suas faces era contaminante.
Atravessei a praça e sentei-me num banco. Fiquei olhando para eles e me lembrando dos tempos em que você e seus irmãos eram pequenos. Eu os levava àquela praça pelas mãos, mas tinha só duas, como iria conduzir três, não é difícil. Então sempre um escapava e saía correndo, quem? Cléverson. Só podia ser. E logo atrás dele ia toda serelepe, balançando seus cabelos de um lado para outro, a Carina. Ai, meu Deus. Que bons tempos!
Claire ficava mais quieta e compenetrada. Sentava-se naquele banco defronte a fonte luminosa e ficava olhando meus lindos filhos brincarem de escorregar aos pés do monumento ao Cônego José Carlos. Aquilo era felicidade.
Eu, todo orgulhoso, fazia questão de que todos olhassem para vocês e vissem que eram os meus filhos. Quanta alegria naqueles momentos.
Você, Carina, não deixava por menos. Competia com o seu irmão em tudo. Tudo o que ele fazia você queria fazer também. Era a minha linda molequinha de sorriso sincero e constante.
De vez em quando, olhava para mim e gritava: “Papai (era sempre papai), olha o Cléverson me amolando...” E partia para cima dele.
Quantas vezes eu sonhei com esses momentos tão bons. Quantas vezes, sozinho no meu canto, vejo vocês correrem, gritando e até, por que não, brigando.
Lembro-me dos muitos momentos em nossas viagens pelas Minas Gerais e pelas praias de Ubatuba. Em Campos do Jordão, você corria pelos gramados do parque, sempre balançando seus cabelos lisos, e gritando. De vez em quando se aproximava de nós e soltava aquela risada de papai Noel: ho ho ho... que só você sabia imitar e que ainda tenho gravado nos filmes que fazia.
A menina, a caçulinha, o anjo que Deus decidiu colocar em nossas vidas. Não é uma graça?
A sua luta, a sua disposição, a sua busca em alcançar boas notas na escola a fez passar por dificuldades que, mais tarde, você superou... e como superou.
Um dia você resolveu dançar. E lá foi minha linda garotinha para o balé. Mas parece que o balé não estava para você, levadinha como era. Então partiu para outro tipo de dança. Foi uma dançarina linda e empolgante. Suas apresentações, eu ainda as tenho filmadas, eram motivos de orgulho para todos nós.
Lembro-me também dos nossos momentos na praia. Segurava você pelas mãos e a conduzia em direção ao mar. Você ia saltitando, como se dirigisse ao melhor de todos os lugares. Entrava nas águas frias do Atlântico e batia suas mãos para molhar o papai orgulhoso. Como você gostava do mar.
Suas participações em campeonatos de natação na AABB a fez se transformar num peixinho lindo, numa sereiazinha maravilhosa na piscina daquele clube.
E assim foi você!
Eu ainda sentado naquele banco da praça, continuava sonhando o sonho bom e ter tido você criança e conseguido, embora cheio de falhas, dar-lhe o que eu sempre quis dar aos meus filhos: amor, compreensão, carinho e incentivo.
Fui e sou um pai bobo. Quem não seria tendo filhos tão maravilhosos como vocês.
Nesse devaneio, naquela praça, alguém me acordou para a realidade. Não via mais aquele senhor com a garotinha. Um amigo me fez retornar ao presente.
Voltei para casa e aqui estou escrevendo estas palavras bobas que brotam de um coração ainda mais bobo, de um pai orgulhoso e cheio de saudades.
Você, Carina, cresceu, é, você cresceu. Tornou-se uma mulher linda, meiga, carinhosa e, acima de tudo, um anjo para todos os que eram cativados pelo seu sorriso.
Você casou-se e teve dois lindos filhos: Beatriz e Neto.
Quando chegou aquele mês de março de 2012, tivemos a triste notícia de que você tinha câncer. Mas não se entregou. Pelo contrário, lutou bravamente e sempre com confiança e fé. Foram três anos de lutas e sofrimento. Nunca sequer ouvimos de sua boca uma palavra de revolta ou de mágoa. Mesmo nos seus momentos de dor, sempre sorria.
Mas, como já disse, Deus apenas nos emprestou você. Agora, em abril de 2015, Ele a quis de volta para enfeitar o céu de sorrisos e alegrias.
Você partiu. Você venceu, porque conquistou os céus. Mas a saudade sempre permanecerá em nossos corações. Sempre visualizarei aquela garotinha sapeca e querida por todos nós, que nos deu tantos momentos de alegria e, hoje, nos deixa seu legado: os filhos de sua vida.

Tenho saudades da minha infância   Saudades de tempos distantes, pessoas especiais, lugares inesquecíveis, cheiros e prazeres, reco...