8 de outubro de 2013

Utopia - II

Abra a cortina que o tempo fechou
Vá encenar
Os atos que a sua sina guardou
Pra lhe ensinar navegar
Se entregar ao mar
De todos os sonhos que há sonhou.
Deixe as mãos de o destino escrever
E traçar a história que é sua.
Vá encontrar
O seu lume e brilhar
Descobrir que no céu com estrelas
É lá que é seu lugar.
Vá fantasiar, revelar
a imaginação
e voar com as asas do coração.
Ele vai lhe ensinar a navegar
E se entregar ao mar
De todos os sonhos que já sonhou.


21.04.1990

O Fantasma do Tiro de Guerra


O ano era 1965. Nesse ano eu prestava o serviço militar. Nossa turma constava de 75 atiradores. A sede do TG 71 (hoje TG 04/04) até hoje, fica na Avenida Governador Valadares, bem no centro de Alfenas. 
Foi uma época bastante feliz. Tínhamos instruções diariamente às 5 horas. Aos sábados e domingos, instrução de campo às 7 horas.  Não tínhamos sequer um dia de folga durante a semana. 
Apesar de feliz, foi um período muito difícil para mim. Tinha que cuidar da loja de minha mãe - Casa Paula - o dia todo e estudar à noite no Colégio de Alfenas, conhecido popularmente como Colégio do Dr. Roque.
Durante o período de prestação do serviço militar, eu contava com amigos excepcionais, unidos e companheiros. Todos apoiavam todos e ninguém denunciava ninguém por coisa alguma. Nosso lema era “se um fosse punido, punidos seríamos todos.”
Quem comandava a turma eram dois sargentos: Gonçalves (cujo nome completo não me lembro) e Eduardo Caetano da Silva. Ambos eram bastante exigentes. Todos nós os respeitávamos com certo medo de punição.
Como eu era um bom datilógrafo, fui nomeado para ficar no PC (Posto de Comando) digitando os documentos do TG. Às vezes ficava a manhã toda, o que me prejudicava no trabalho e nos estudos. Mas, era obrigatório. Tínhamos uma bela fanfarra da qual eu fazia parte. Tocava bumbo e às vezes tarol. Nossa turma era também muito afinada em cantar hinos militares, o que nos rendeu vários elogios por parte dos superiores.
Eu exercia a função de Cabo de Dia. Uma espécie de comandante designado pelos sargentos. Quando ficávamos de plantão, geralmente o Cabo e mais quatro atiradores, eu era o responsável por tudo o que ocorria durante a noite.
Em um desses plantões noturnos, mês de julho, um frio estarrecedor além de fortes neblinas, estávamos lá “de castigo” Édson, Scarpa, Devilson*, Gilberto e eu. Não conseguia dormir.
O TG tinha um pátio bem grande. Havíamos feito a capina e o deixamos limpo. Durante a limpeza, encontramos alguns ossos humanos e pedaços de lápides. A verdade é que ali havia sido um cemitério em final do século XIX. Devilson se assustava muito fácil e dizia sempre que “não devíamos brincar com os mortos.”  Foi a dica.
Durante aquela madrugada, chamei pelo Scarpa. Ele era gordo e forte. E disse a ele:
- Vamos pregar um susto no Devilson?
- Como? indagou.
- Você fica atrás daquela mureta no final do pátio e esconda. Quando eu falar com o Devilson, você imita uma alma do outro mundo... (risos)
E ele topou.  Chamei pelo colega, era por volta de 3 horas da manhã, e disse:
- Estou ouvindo vozes no pátio do TG. Venha comigo para ver se descobrimos alguma coisa.
Todo trêmulo e sempre murmurando “não brinque com essas coisas”, nos aproximamos do pátio e eu disse.
- A voz saiu dali do fundo. Tente ouvir.
Neste momento, Scarpa soltou um gemido fantasmagórico.... “vocês profanaram meu túmulo.... vão pagar por isso....” Devilson, apavoradíssimo e trêmulo, quase chorando:
- Eu falei... eu falei que não se deve brincar com isso. Vou-me embora daqui. Vou mesmo...
- O que aconteceu? gritei. Não ouvi nada.
E saiu em disparada direto para casa. Nem quis mais cumprir o restante do plantão.  Claro que eu tive que colocar no livro de ocorrências uma justificativa pela saída dele. Apenas narrei que ele alegou estar ouvindo vozes e que, com muito medo, saiu do TG.
No dia seguinte narrei o fato ao Sargento Caetano que, entre risos, não acreditava no fato. Chamou pelo Devilson que contou a ele a história do “fantasma” dizendo que não mais dormiria ali, mesmo que isso custasse uma expulsão.
Nunca contamos a ele a verdade.

Junho 2013

 *O nome foi trocado para evitar constrangimento.

Curiosidade: De onde surgiram as palavras "Jubileu" e "Alterosa"? - 28

JUBILEU - A palavra vem do hebraico yobel, espécie de trombeta entre os antigos, com a qual de 50 em 50 anos se festejava um feito. Escravos eram libertados e terras alienadas voltavam aos proprietários primitivos. Era uma instituição caracterizada pela indulgência de dívidas e culpas. Do termo decorre jjubilares, dar gritos de júbilo, aplicado à aposentadoria que se sente ao deixar um nobilíssimo cargo.
ubilar, do latim

ALTEROSA - Município de Minas Gerais. A palavra, um adjetivo, designa alguma coisa elevada, de grande altura. Figurativamente, majestosa, grandiosa, altaneira. O berço do nome da cidade é mencionado no decreto-lei estadual de 31 de dezembro de 1943, que justifica a denominação por seu belo relevo e qualifica o município como cidades das montanhas, alta e majestosa.

Tenho saudades da minha infância   Saudades de tempos distantes, pessoas especiais, lugares inesquecíveis, cheiros e prazeres, reco...