23 de abril de 2015

Carina

Ela foi um exemplo de vida, de entusiasmo, de alegria, de perseverança, de fé e de aceitação.
Ela foi a queridinha de seus irmãos, foi a filha exemplar, a mãe carinhosa e a esposa dedicada.
Foi o anjo da UTI Neonatal do Hospital Alzira Velano.
Apesar de tudo isso sofreu as amarguras de um câncer que a foi destruindo a cada dia. Nunca reclamou de nada apesar das dores atrozes. Mesmo assim, nunca deixou de sorrir.
Pois é, Deus no-la emprestou por 33 anos e hoje, 18/4/2015, Ele resolveu tê-la de volta. Carina partiu para os braços do Pai, foi para junto de seus avós que tanto amava.
Hoje ela está no lugar reservado aos justos e àqueles que amam a Deus. Já não temos mais lágrimas para pranteá-la. Ela nos deixou e deixou conosco a lembrança de tantos anos de convivência e alegria.
Mas, além da saudade, nos deixou duas joias preciosas: Beatriz e José Carlos que são a continuidade de sua vida. Deixou pais chorosos e marido saudoso. O céu está em festa, apesar de nossas lágrimas, pois lá hoje aportou uma SANTA.
Fique com Deus, minha caçulinha querida, e nós aqui ficamos na saudade que, temos certeza, durará até o dia em que nos encontraremos novamente.
Beijos de todos nós: pais, irmãos, sobrinhos, tios, primos e, principalmente de seu marido Isaías. Saudade de seu sorriso contagiante. 

Permanência

Claire de Oliveira Silva Quirino
À minha irmã
      Foste. Numa madrugada fresca, escura e calma. Após despedidas, lágrimas, desespero e muita dor, esperaste o silêncio, recobraste o fôlego e partiste serenamente. Senti a última batida de teu coração, vi o derradeiro sopro de vida abandonar teu corpo tão castigado por três anos de luta contra um mal tão implacável. Deixaste a paz e a saudade.
     Tive o privilégio de caminhar a teu lado nesta jornada. Dividimos brincadeiras e confidências, sonhos e medos. Fomos irmãs, amigas, comadres, mãe e filha uma da outra. Decidimos ter filhos na mesma época para que pudessem ser mais do que primos, assim como nós fomos mais do que irmãs. Conversávamos em silêncio, à distância e até durante a madrugada.
Amparei-te os primeiros e os últimos passos. Escolhi o nome que carregaste nesta vida e usei-o para dizer-te adeus. Senti tuas dores tão intensamente que às vezes as confundia com as minhas. Tuas aflições fizeram morada em minha alma. De longe, desesperei-me com tuas angústias e fortaleci-me com tua bravura.
     Lutaste. Tanto e tão bravamente, que até os mais céticos passaram a acreditar. Tua vontade de viver e de ver teus filhos crescerem, tua fé e teu amor – sempre distribuído gratuita e facilmente - foram teus alicerces. Impossível não te admirar, não te amar, não se emocionar, não se transformar.
Foste, mas deixaste um legado – um belo legado de fé, esperança, determinação e amor. Sobretudo amor. Nunca conheci ninguém que amasse de modo tão genuíno. Amaste a família, a profissão, os pacientes, os amigos, os desconhecidos, a vida. E tanto amor assim não se dissipa, permanece.
Por isso, ficaste. Nos olhos da tua filha, nas molecagens do teu filho, na bondade do teu marido, na doçura dos teus sobrinhos, na dedicação dos nossos pais, na alegria do nosso irmão, no meu sorriso, em nossas vidas. Em cada alma que cruzou com a tua, deixaste um pouco de ti para que o mundo se tornasse um lugar melhor.
     Agora, a dor ainda é muito grande. Mas sei que estás em paz. Para me manter de pé, procuro me lembrar de teu largo e constante sorriso, dos teus olhos tão redondos e vivos, das brincadeiras na rua, das tardes na casa da vó, dos feriados em Ubatuba. Assim, sinto tua presença cálida e serena, e meu coração se aquieta.
     Tua luz me guiará até o fim desta jornada e me dará forças para cumprir todas as promessas que te fiz. E te prometo mais: começarei cada dia com um sorriso ainda mais largo, tanto quanto o teu. Onde quer que estejas, saibas que foi uma honra estar a teu lado. Te amo infinita e eternamente!

22/4/2015

Quando eu busco em minha memória

Cléverson de Oliveira e Silva
à minha irmã

     Quando eu busco em minha memória, eu me lembro daqueles olhinhos castanhos bem arredondados... Está certo que não eram somente os seus olhinhos que eram bem redondinhos, seu rostinho também era assim e eu não perdia a oportunidade de lembrá-la disso, importunando-a, chamando-a de “Mônica”, “Gorda”... e quantas vezes não brigamos por conta disso. Mas refletindo agora, acho que todas essas importunações eram a forma de dizer algo mais. Criança não sabe se expressar bem com palavras e quer estar sempre por cima, mas cada provocação era uma forma de dizer “eu me preocupo com você”, “eu estou pensando em você”, “eu amo você”...
     Esse rostinho redondo, quando o sorriso desabrochava (e este sorriso era quase permanente), tornava-a macilenta e seus olhinhos menores, estampando a alegria de uma menina moleca, que brincava comigo na rua junto com os meus amigos... era também um deles, minha amiga.
     Ela foi crescendo, nossas brigas diminuindo, nossa  proximidade  aumentado. Ela se tornou uma adolescente e uma mulher linda, casou-se e me deu dois sobrinhos que amo de paixão. Saibam que o tio/padrinho vai estar sempre aqui para o que precisarem.
    Essa menina/mulher, Carina, querida, cujo coração é maior que o mundo, que coloca a necessidade dos outros na frentes das suas. Guerreira, que luta de cabeça em pé e com um sorriso no rosto.
     Eu te amo muito minha irmãzinha, e vou me lembrar sempre de você assim, com seu sorriso. Sua falta vai deixar um enorme vazio no meu coração e vai levar um bom tempo para cicatrizar.
Eu me esforço muito para não pensar em como tudo ocorreu nos últimos tempos, porque, quando o faço, sou dominado pela tristeza e pela saudade. Sei que a única maneira de me manter são é apoiando minha família e contanto com a minha esposa, cujo ombro serve como foz para este rio perene que nasce no meu coração, corre pelos meus olhos e desagua em seu colo.
Sei que devo tocar a vida. A dor vai passar, mas a saudade vai permanecer. Sei que hoje você olha por todos nós e que nossas vidas estão mais protegidas. Existem coisas para as quais nunca encontraremos explicação.

22/4/2015

15 de abril de 2015

Viagem de Núpcias

Terminada a festa do casamento, meu irmão nos levou para Varginha, onde passamos a noite no Fenícia Palace Hotel.  Este hotel fica no centro da cidade, ao lado da antiga rodoviária.
Na manhã seguinte tomamos um ônibus para São Paulo. Assim que entramos no ônibus assistimos a uma discussão entre gerente da empresa e o motorista. O ônibus dirigiu-se até à garagem da empresa onde ficamos parados por aproximadamente meia hora, até que a discussão chegasse ao final.
Enfim fomos para São Paulo. O veículo não oferecia quase nenhum conforto e a viagem foi muito demorada, pois naquela época não havia rodovias boas e conservadas. A Fernão Dias tinha apenas uma pista de mão dupla.
Chegando a São Paulo - é bom lembrar que a Rodoviária ficava na Praça Júlio Prestes, na região da Luz, no centro e não no Tietê onde é hoje - apanhamos a mala e chamamos um táxi.  Nós pretendíamos ir para o litoral Sul, exatamente para a cidade de Itanhaém.  Tínhamos que ir para outra rodoviária, acho que Barra Funda, não me recordo bem.
O problema é que a mala que Carmen levava era enorme, a ponto de o táxi não aceitar levá-la, então tivemos que procurar um táxi maior. Com muito custo conseguimos.
O drama de toda a viagem foi a mala. Enorme e estava muito pesada. Até então eu não fazia ideia do que havia nela.  Chegando à rodoviária, foi preciso um carrinho maior para levar a abençoada bagagem. 
Embarcamos com destino à Itanhaém, cidade que eu não fazia a mínima ideia de como era e nem tampouco para que “rumo ficava”.
Desembarcamos naquela cidade e lá veio o problema da mala. O táxi quase se recusa de nos levar para o hotel com aquela mala. Mas, depois de alguma conversa, conseguimos. Chegamos então num hotel de classe média chamado Hotel Amazonas. Era noite.
Logo na portaria, o recepcionista nos disse que não havia quarto com cama de casal. Beleza, em plena lua de mel. Brincadeira!  Tivemos que aceitar um quarto com duas camas de solteiro e o jeito foi juntá-las.  Tudo bem.
Resolvemos abrir a mala que mais parecia um baú de tão grande e pesada. Quando a abrimos... que susto!  O que havia? Duas caixas de camisas cheias de salgadinhos da festa....  Uma blusa de frio superquente e pesada e outras roupas mais.  Era janeiro, imagine, com verdadeiros capotes de frio.  Os salgadinhos, nem precisaria dizer, azedaram e se perderam.
Tomamos um bom banho, pois passamos muito tempo viajando em um ônibus que não tinha nenhum conforto e fazia muito calor. Para amenizá-lo durante o percurso, era necessário abrir as janelas, o que muitos passageiros não aprovaram.
Vestimos um short e saímos para dar uma volta. Pra que lado ficava o mar? Não se via nada porque a iluminação da cidade deixava muito a desejar.  Na porta do hotel, sentimos a brisa do mar. Pronto, é para lá que vamos.
O mar ficava à direita e fomos para a esquerda. Brincadeira do destino. Andamos por um bom tempo, sentindo o cheiro do mar e nada de mar.
Foi então que deixamos a busca para o dia seguinte. Precisávamos comer alguma coisa. Mas onde encontrar um restaurante bom? Não achamos.  Pelo que vimos da cidade, era muito ruim. Fomos a um barzinho, quase ao lado do hotel, onde serviam refeições. Comemos por ali mesmo. Após o “jantar” fomos de volta para o hotel. Não havia mais opções.
De manhã, após o café - que por sinal muito fraquinho - fomos novamente à procura do mar. E qual não foi nossa surpresa ao chegar à porta do hotel... ali estava o mar a poucos metros de nós.
Voltamos às pressas para o quarto onde trocamos de roupa e nos dirigimos à praia. Surpresa. A praia não era tão limpa e não havia praticamente ninguém por ali.
Muita pedra, pouca areia, sem ondas e bastante suja. Mas, ficamos por ali mesmo. Demos um mergulho e nos deitamos na toalha sobre a areia.  Não sei determinar o tempo que ficamos, só sei que ao sairmos estávamos vermelhos como um pimentão.  Fomos para o hotel e tomamos um banho. Qual não foi a surpresa. Nossos corpos estavam ardendo e muito. Queimamos demais, confiando que o mormaço não nos faria mal. Não podíamos encostar um no outro. Imagine só. Em plena lua de mel.
Dali fomos à farmácia e compramos uma loção para aliviar as queimaduras.  Pelo movimento da farmácia, não éramos apenas nós a passar pelo problema. Havia outros casais nas mesmas condições. Daí, o funcionário nos disse: mineiros não estão acostumados ao sol. É normal isso por aqui.
Sim, pode ser normal. Mas não era normal em viagem de núpcias.  Tudo bem, passamos o resto da tarde e a noite passeando pela cidade. Pelo visto, muito pequena. Fomos então ao mesmo restaurante onde estivemos no dia anterior.
Depois disso, sentamos num banquinho de uma pequena praça, até que bastante aconchegante. Ao nosso lado, passou um trenzinho da alegria. Puxado por um jipe e com carretas onde se transportavam turistas.
Resolvemos dar uma volta naquele trenzinho. E lá fomos. Ele começou a dirigir-se para um local um pouco distante de onde estávamos. Foi em direção a um pontilhão que ficava logo à frente. Quando o trenzinho acabou de atravessar a ponte, nossos olhos não acreditaram no que viram.
Uma praia maravilhosa, um colírio para os olhos, seu nome: Praia dos Sonhos. Cercada de muretas, com uma infraestrutura fantástica.  Na orla, lindos prédios, restaurantes e bares lotados.  Olhamos um para a cara do outro e perplexos com a maravilha que vimos.  Ali, naquelas praias, estava sendo filmada a novela da Globo: “Mulheres de areia”.
Ficamos indignados conosco mesmos. Depois de passarmos por um hotel bem ruinzinho, um restaurante horrível, encontramos o paraíso.  Já era noite, voltamos para o hotel.
Na manhã seguinte, vestimos nossas roupas de banho e fomos para aquela praia, onde ficamos o dia todo, degustando frutos do mar, peixes e admirando a beleza local.
 Alguns anos depois, quando lá voltamos... bem, a coisa foi diferente.

Tenho saudades da minha infância   Saudades de tempos distantes, pessoas especiais, lugares inesquecíveis, cheiros e prazeres, reco...