Lá se
foram os anos. E meus pensamentos divagam. Nesta viagem, retornei ao passado e
me deparei pedalando pela estrada que leva a Machado. Estrada sim, pois ainda
não havia asfalto.
A bicicleta, um modelo
argentino, leve, de alumínio, freio contrapedal, levava na garupa o Jucelino,
amigo de longa data.
Ainda
jovem, o esforço físico não me deixava cansado ou ofegante. Lá íamos, apreciando a
natureza, em meio a poeira que os carros deixavam, mas felizes, dando
gargalhadas, contando causos.
O
destino era a Fazenda Mato Dentro, a 5km de Alfenas, de propriedade do amigo
Genaro Paulino, de saudosa memória.
Aquele
casarão se destacava no vale aconchegante, cheiro de mato e de gado. As árvores
frondosas, pareciam nos dar boas vindas. A bicicleta corria entre os arvoredos
que circulavam aquela estrada campestre. Seu galhos balançavam suavemente ao
som dos ventos, que sopravam em nossos rostos juvenis.
O
pomar logo se destacava aos nossos olhos, com seus frutos maduros e variados.
Todo tipo de fruta ali estava à nossa espera.
O
casarão que sempre nos via chegar com suas paredes de taipa, suas grandes
janelas e portas azuis, sempre abertas, nos convidava a entrar em seu interior.
Salas
e quartos enormes. Aquela saleta, próxima à cozinha, era nosso recanto para os
jogos de cartas. Foi ali que Genaro me ensinou a jogar truco.
Quantas
e quantas tardes e noites passamos ali entre risos, gritos e alegrias. Genaro,
com toda sua paciência, ensinava-me os truques do truco. Que saudades!
Descíamos
por uma escada que saía da cozinha, em direção ao pátio. Naquele pátio
cimentado um grande viveiro. Eu ficava algum tempo olhando a variedade de
pássaros ali criados. Os canários eram os que me chamavam mais a atenção, com
suas asas amarelas cor de ouro que, ao refletir sob o sol, brilhavam.
Sanhaços
sobrevoavam as laranjeiras e outras árvores frutíferas. Segundo Genaro Paulino,
“eram as pragas do pomar”.
Saíamos
os irmãos José Augusto (Gordo), Manuel (Menino), Mário, e Carlinhos, além do
Jucelino e eu para os pomares. Espingardinha de chumbo, íamos à caça dos tais
sanhaços.
Conseguíamos
caçar entre 3 a
4 numa tarde. Todas as vezes que um pássaro caía, um de nós gritava: “traz o
gato”.
E
lá vinham aqueles gatos pardos atrás da caça. Sempre que íamos à fazenda, os
gatos nos acompanhavam à espera de suas refeições.
Dona
Olinda, esposa de Genaro, a quem carinhosamente eu chamava e chamo de “tia Olinda”,
nos esperava para almoçar.
Refeição
de roça... hmmm.... uma delícia. Seu frango caipira era de dar água na boca. O
angu, o quiabo, o feijão novo, tudo uma delícia, sem contar a salada bastante
rica e variada. O sabor das refeições ainda as sinto.
À
tarde saíamos a cavalo pelos campos da fazenda, sempre acompanhado de José
Dutra. Zé Dutra, como o chamávamos, sempre com sorriso nos lábios e dono de uma
paciência invejável. Adorava futebol. Era um dos membros da diretoria do
América F.C. Justa a homenagem dando seu nome a uma das ruas de Alfenas. Seu
nome era José Delmiro dos Santos. Até hoje não sei o porquê de “Zé Dutra”.
Um
grande amigo e companheiro das tardes de truco na Fazenda Mato Dentro. Durante quase toda minha adolescência frequentei aquele lugar maravilhoso que não sai de minha memória. Não só pelos lindos lugares, mas, sobretudo, pela família Paulino da Costa. Ela fez parte de minha vida. Que saudades!
- Traz o gato!
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