19 de maio de 2015

Carina, minha filha

     Faz um mês que você nos deixou, mas para todos nós que vivemos intensamente seus últimos
dias, parece que foi ontem. Sinto sua presença em todos os momentos, escuto sua voz, sinto seu cheiro, você é o primeiro e o último pensamento do meu dia. Quando vou à sua casa, visitar seus filhos, ainda olho para ver se você está sentadinha naquele sofá. Muitas vezes penso que é mentira tudo o que aconteceu, mas a vida é assim, e tenho certeza de que Deus estava precisando de você, Ele estava se sentindo um pouco triste e a chamou para animar o céu, com sua alegria.

     Como diz a música, "sempre haverá uma data, palavra, um olhar, um filme, uma música, um perfume, um abraço, um sorriso, só pra lembrar você".

     Todos nós temos tentado manter um sorriso e uma alegria, como você nos ensinou, mas às vezes se torna muito difícil. Você dizia: “Pai, como será do outro lado?” Eu respondia: “Não se preocupe, minha filha, garanto que é bem melhor do que aqui.” Hoje você sabe como é e que eu tinha razão, mas sabe também que não é fácil viver a sua ausência. Ela dói.

     A razão pela qual dói tanto nos separarmos é porque as nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham sido assim e para sempre serão, talvez tenhamos vivido mil vidas antes desta e em todas elas tenhamos nos encontrado. E talvez em cada uma delas tenhamos sido obrigados a nos separar tão precocemente.

     Quando olho pra você em meus sonhos, vejo sua beleza e seu encanto, seu entusiasmo, sua confiança, seu sorriso cativante, seu exemplo dignificante. E sei que passamos quase 34 anos um ao lado do outro e nossas almas sempre estiveram juntas e têm que estar sempre juntas. E assim, por alguma razão que nenhum de nós entende, fomos forçados a dizer adeus.

     Sua preocupação maior: seus filhos. Você nos pediu que ajudasse seu marido a cuidar deles. Não se preocupe, nós cuidaremos. Eles são sua herança. Você continha vivendo neles.

     Deus tira de nós o que mais amamos, quando menos esperamos e sem nenhum aviso. E a culpa? A culpa é da vida que tem início, meio e fim. A nossa culpa está apenas em amar tanto e sentir tanto perder alguém. Mas o tempo é remédio e nele conquistamos o consolo, com ele pensamos nos bons momentos. E no fim apenas a saudade e uma certeza: não importa onde você esteja, estará sempre conosco. A ferida sara, mas não cicatriza.

      Ficar triste e abatido num momento como esse, é algo mais que normal, isso faz parte dessa etapa tão dolorosa, mas entregar-se à depressão, ao desânimo e a falta de esperança não é a melhor solução. E isso você não queria.

     Olho para o futuro. Há uma vida nova pela frente. Hoje é o início da nova vida. Não é a vida que eu sonhava. Não é a vida que eu planejei, mas é a vida que me restou. 

     Eu adoraria dizer que tudo dará certo e prometo fazer tudo que eu puder para que isso aconteça. Mas nunca mais voltaremos a nos encontrar, foi uma despedida, mas sei que nos veremos logo. E em outra vida nos encontraremos de novo e talvez até lá as estrelas tenham mudado e então nós nos veremos juntos novamente.

     Um beijo afetuoso e cheio de saudades de todos nós: pais, filhos, marido, irmãos, sobrinhos, primos e tios.

J. Claiter

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