10 de fevereiro de 2015

Curiosidades: História ou estória? - 30

“Bom, estória nasceu três vezes. Primeiro, nos velhíssimos tempos em que escribas, escrivães e copistas, por ignorância ou economia, deixavam no tinteiro os agás latinos: aver, ou auer, omem ou ome, oje, ora... Depois, veio a Renascença cheia dos seus latins, e exumaram todos os agás enterrados. E a estória voltou a ser história”.

Depois? Depois veio o João Ribeiro (jornalista, filólogo, historiador,  1860/1934), e estória nasceu pela segunda vez (1919). Como o inglês tem story e history (“Stories are not History”), aquele escritor sugeriu o vocábulo arcaico estória, em terminologia de folclore, para conto da carochinha, lenda popular, etc.  Mas o vocábulo ficou em estado de incubação...
Depois? Bom, depois o arcaísmo nasceu pela terceira vez. Porque veio o Guimarães Rosa, para glorificar, imortalizar a ausência do agá: Primeiras estórias. Corriam os anos de 1962. “Primeiras estórias”... todos os fãs do mineiro imortal ficam absolutamente alucinados. E foi estória pra cá, estória pra lá, estória pra todos os lados. Uma epidemia. Perdão, uma glória... a estória. Deu-se até aquele comovente caso do plumitivo* de aldeia que projetou escrever a “Estória do Município de...”. Não digo o nome do município para não dar a pista do “estoriador”.
Bem, hoje estamos neste pé: escritor que se preza não escreve histórias, mas tão-somente estórias. Pelo menos assim fica tendo alguma coisa em comum com o gênio do Grande Sertão...  . 
Mas, falando sério: hoje há duas posições - 1ª) fazer a distinção entre história (o real, acontecido, datado) e estória (o fictício, a ficção) e 2º) manter uma forma única, com h, em qualquer sentido.
Eu? Sou da simplicidade, da não complicação: história. Em qualquer sentido. Afinal, ter mais de um significado é a sina da maioria das palavras. Hoje é o ‘dia corrente’ e o ‘tempo atual’: quem sabe, a gente opõe um hoje a oje?
Em odo caso, respeito o uso estilístico, pessoal, de estória."
(*) escritor ou jornalista sem méritos

(Celso Pedro Luft in “o romance das palavras”, ed. ática, 1996)

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