22 de fevereiro de 2011

Brincadeiras de Criança


Às vezes acordamos a criança que está dentro de nós. As lembranças despertam e a saudade também. Abre em nosso ser a vontade de voltar. Os amigos retornam à nossa lembrança. São tantas coisas para se recordar... tantas coisas.
Lembro-me, por exemplo, de minha infância, das brincadeiras de pipa. Saíamos para a famosa Pedreirinha - um pequeno riacho à beira da antiga estrada que nos levava ao aeroporto - local ideal para nossas brincadeiras. Hoje, infelizmente, a floresta de cimento e o asfalto destruíram aquele mundo, mas não apagaram minhas lembranças.
Ainda me vejo com Zezé, correndo pelo campo, lutando para que a pipa subisse. E lá íamos em direção àquele riacho de águas cristalinas.
De um lado, o menino segurando a pipa e, do outro, os seus sonhos e seus desejos cada vez mais altos. A visão da pandorga alçando voo e à mercê do vento, nos transmitia a sensação de liberdade.  Aqueles bons momentos  que hoje voltam à minha memória.
Recordo-me saudoso daquele dia em que fomos ao famoso riacho, onde mulheres, com seus vestidos  amarrados entre as pernas, davam a impressão de estarem vestindo pantalonas, batiam suas roupas nas pedras e as esparramavam pela relva para secarem. Abaixo, corriam as espumas brancas que sumiam atrás dos arbustos, para onde corria o riacho.  
Lá estávamos, a inocência fazia parte de nossas vidas. Tiramos as roupas e nossos corpos nus se jogaram nas águas frias naquele dia de verão sob os olhares atônitos das mulheres que gritavam, horrorizadas talvez pela nossa atitude. Aquele corpo de menino, dourado pelo sol, nos privava do sentimento de vergonha.
Queríamos, sim, nos divertir naquele dia e o que pensavam de nós, não nos importava. Os gritos saíam de nossas gargantas e ecoavam pelo descampado imenso forrado de verde. A nós se juntaram outros moleques - talvez filhos das lavadeiras - e a brincadeira continuou e vozes se uniram aos nossos gritos que se traduziam em alegria.
Nosso futuro era aquele momento. A  infância, embora não acontecida, tinha seus momentos de prazer e de vida. 
Voltando àquele lugar, que um dia foi palco de tantas algazarras infantis, já não vi mais o riacho, as lavadeiras e o vale verdejante de minha infância. No lugar das árvores, plantaram concretos e ilusões. No vale cresceram os homens e se perderam os dias de inocência. Como é bom lembrar.
          Onde estarão Zezé e todos os outros?

J. C. Paula

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