10 de julho de 2012

Agora ela pode morder?


Naquele dia, ele se aproximou de mim perguntando sobre a possibilidade de ter um cãozinho. A verdade é que eu nunca desejei ter um cão ou cãozinho. Não tinha como abrigar um animal em minha casa por falta de espaço.
Mas aqueles olhinhos esbugalhados, fixos nos meus, o sorriso franco aguardando uma resposta, deixou-me sem jeito para dizer não! A resposta foi simplesmente resumida num “é possível”. Procurou argumentar sobre a necessidade de ter um cãozinho.  “É bonitinho! Eu quero! Preciso de um amiguinho desse tipo! Meus coleguinhas todos têm!”
Até que naquela tarde de novembro um amigo ofereceu-me um animal desses, pequenos, acho que é Pinscher (acertei o nome?), um bichinho tão miúdo que cabia no meu bolso.  Pensei que um serzinho desses não ocuparia espaço. Levei-o!  E qual não foi a alegria dele ao receber a cadelinha. Uma miniatura. Tornou-se até difícil criá-la. Com o passar do tempo, ela tornou-se a dona da casa. Corria pra todo lado, fazia festa com todos.
Era perigoso pisoteá-la de tão miúda. Tornou-se ciumenta com todos. Ninguém podia se aproximar de um de nós que ela corria, eriçava os pelos (que quase não tinha), fazia escândalos e latia desesperadamente. O latino fino e estridente que chegava a doer os ouvidos.
Foi então, numa dessas crises de ciúmes, que aconteceu. Estava ela deitada no sofá entre nós, quando alguém bateu à porta. Era um velho amigo. Solicitei que entrasse e se sentasse na sala conosco. Ele estava apenas de chinelos e sem meia. Quando, sem menos esperar, surgiu aquela coisinha correndo e latindo em direção ao visitante. Não houve tempo de pará-la. Com seus dentinhos afiados e brancos, abocanhou raivosamente o calcanhar de nosso amigo. É certo que apenas arranhou, mas nos deixou envergonhados. O comportamento daquela cadelinha nos deixou desconcertados. Quem diria!  Foi um problema segurar aquela ferinha ciumenta. Depois de muita luta, conseguimos.
No dia seguinte pedi ao meu filho que a levasse para ser vacinada. Fazia parte da rotina. Ele quis saber o porquê da vacina. Expliquei que o cão poderia transmitir doenças se caso mordesse alguém, como aconteceu.
Conformou-se e a levou ao veterinário. Quando voltou, todo satisfeito, com a cachorrinha no colo, abraçou-me e, num sorriso, falou:
- Pois é, papai, ela já foi vacinada! Agora ela já pode morder todo mundo, né?
         Caímos na gargalhada.

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