Amigos,
amigos de fato. Amigos para todo momento e para todas as aventuras. Ele morava ali pertinho, apenas três casas abaixo
da minha. Seu apelido: Onça. Não sei porque, mas onça não combinava com ele.
Nunca o chamei assim. Pra mim era Carlinhos.
Onde
quer que fosse ele me acompanhava, nos bons e maus momentos. Nunca deixamos de
ser amigos. Tínhamos a mesma idade. Ele, moreno, esguio, falador, sorridente,
filho caçula, assim como eu. D. Zica, sua mãe. Austera mas me amava. Seu pai,
Sr. Homero, morreu de repente quando brincávamos na sala de sua casa.
Triste
lembrança. Fez a barba, nos cumprimentou naquele momento em que estávamos
brincando de carrinhos (esses feitos de
madeira cujas rodas eram de carretéis vazios, feitos por nós mesmos).
Fez a barba, assobiava naquele momento o “Perfumes de Gardênia”. Como ia me
esquecer? Saiu do banheiro, sentiu-se mal e olhou pra nós. Foi seu último
olhar. Era 1954.
Rodopiou
e foi tombando devagar sobre nossos corpos frágeis. A vida se esvaiu. Nós não
conseguimos entender o que havia acontecido com ele.
Quando
acordamos para a realidade que se nos despertava naquele momento, lá estava ele
de mãos cruzadas sobre o peito, ainda o sorriso a estampar-lhe na face.
Muita
gente, todos curiosos olhando para aquele corpo inerte. Nós não
entendíamos aquilo. Fomos para o quintal da casa e continuamos nossas
brincadeiras sem perceber o drama que se desenrolava naquele instante.
O
pai de Carlinhos. Não o veríamos mais. Ele partiu.
Passaram-se
os dias, nossa vida rotineira continuou. Brincadeiras, estudos também, caça aos
passarinhos. Vivíamos um mundo que só era nosso e ninguém se adentrava nele.
Como
poderia esquecer do Carlinhos? Não poderia nunca, ele passou a ser parte de mim. Amigo e companheiro.
Depois
de algum tempo mudou-se para São Paulo. Tornou-se motorista de táxi e nunca
mais o vi.
Apenas fui informado que ele faleceu no início de 2012 e foi sepultado em Alfenas.
Vejo-o,
sim, nas minhas lembranças.
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