17 de abril de 2013

A Luta


Era o ano de 1965. Ali estava eu servindo o Exército. Minha turma era composta de 78 atiradores. Cada um, um amigo. Mas como éramos diferentes!
Dentre eles havia alguns tipos inesquecíveis: Scarpa, gordo, esguio, mas não conseguia fazer barras ou flexões, não suportava nos braços seu próprio peso. Ria de seu próprio físico. Alair, colega de bancos escolares, muito brincalhão, era o famoso Pit. Édson, conhecido por Escovão pelo seu penteado. Zé Augusto, o Gordo, velho amigo de infância com quem convivi na fazenda de seu pai, meu amigo Genaro Paulino. Netto, Nogueira, Wilton, Bellini, Sebastião, Pacheco, Damas e tantos outros.
Damas, ah, ele era muito engraçado na sua humildade. Forte, gostava de mostrar seus bíceps. Trabalhava na Casa Pinto como motorista de caminhão.
No primeiro dia de instrução, estávamos em fila no pátio do TG, quando o Sargento Gonçalves solicitou que os novos atiradores fossem dando um passo à frente, por ordem alfabética. “Os atiradores cujo nome comece com a letra C, um passo à frente”, vociferou o Sargento. Damas foi o único a dar um passo à frente. Sargento Gonçalves, com sua voz de militar, perguntou: “Qual seu nome, atirador?”  Damas, imediatamente em posição de sentido responde em bom tom: “Sebastião, Sargento!”  A gargalhada foi geral.
Mas houve um fato inesquecível. Resolvemos alguns atiradores assistir a um espetáculo de luta livre entre mulheres. Era um circo que estava armado num terreno baldio, próximo ao cemitério, onde hoje se localiza o Ginásio Poliesportivo.
Éramos uns 30 atiradores sentados na arquibancada de tábua que, por sinal, não oferecia muita segurança. No centro do circo estava um ringue onde mulheres musculosas lutavam entre si, numa espécie de telecatch.  Esse tipo de luta era moda nos circos.
Entre nós, estava o Pacheco. Forte, cabelos avermelhados, simples e brigão, mas um ótimo companheiro. Sempre sorridente e alegre. Gostava de contar piadas. Ele dizia que aquilo tudo “era marmelada para embromar o público”. Claro que ele tinha razão. Mas era divertido.
O condutor do espetáculo, em dado momento, grita para a plateia: “Entre vocês há alguém que queira desafiar uma das garotas? O prêmio para o vencedor será de 30 cruzeiros” (um bom dinheiro na época).
Começamos, então, a instigar o Pacheco para que aceitasse o desafio. Depois de muita insistência ele desce da arquibancada  e se oferece como  voluntário para  a luta.  
O aplauso foi geral e os gritos de incentivo partiam de nossas gargantas entre vivas e assobios.
Pacheco subiu ao ringue, de calção e camiseta, mostrando seu físico invejável e seus braços fortes.  Ao centro do ringue ele ouviu as instruções do juiz. Ele estava calado e com os olhos fixos na mulher que desafiara.
Começa a luta! Pacheco mal consegue parar em pé. A mulher o derruba várias vezes e ele continua impassível diante da surra que levava. Foi num desses momentos que o juiz se aproximou e disse: “Você não vai reagir?” Pacheco, com uma paciência incrível, responde: “Não gosto de bater em mulheres.”  “Mas você tem que reagir”, explica o juiz.  Pacheco olha para nós e em alto brado responde? “Então que venham as duas!”
O riso foi geral. Ele levantou os braços para o público, arrancando aplausos,  enquanto as mulheres entravam no ringue.
 A luta recomeça. Duas contra um. Pacheco, em poucos minutos, deixa as duas mulheres estendidas no tablado e indefesas. Vencera!
Descemos todos das arquibancadas e invadimos o picadeiro. Tomamos Pacheco pelos braços e o levantamos como um herói, não sem antes receber o prêmio.
Que noite!
Saímos dali aos gritos de alegria e fomos para o Bar do Orlando, onde “torramos” os trinta cruzeiros em cerveja e tira-gosto.
Onde andará Pacheco?
J. C. Paula

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