Coronel J. Bento - década de 60 |
Apenas uns 3 ou 4 eu já conhecia, o restante era estranho para mim.
Sentei ali, na primeira carteira, encostado na parede do lado oposto da porta. A professora Helena, toda sorridente, foi de carteira em carteira abraçando e beijando cada um de seus alunos.
Depois, diante do silêncio da sala, ela ficou frente à sua mesa. Atrás dela o “quadro-negro”. Colado às suas margens, alguns cartazes com desenhos e alguns sinais, que eu entenderia depois como sendo letras do alfabeto.
Com um sorriso, saudou a todos e nos pediu que aprendêssemos algumas cantigas de roda. A sala toda entoou em coro o “Ciranda cirandinha, vamos todos cirandar...”
Após aquela descontração total, principiou a nossa preparação para a vida. Desenhou no quadro o alfabeto de A até Z, em vários modelos.
Começava então minha iniciação para a vida, para novos mundos. Eu fiquei feliz...
No intervalo, fomos para o pátio. Enorme. Sob as árvores alguns bancos de madeira onde sentávamos para saborear nossas merendas, a minha era pão com queijo e açúcar. Naquele dia sentou-se ao meu lado um garoto magro, um pouco mais baixo que eu, e pediu-me um pedaço do meu pão. Dei-lhe. Ele saboreou com um sorriso no rosto. Não disse nada, mas seu olhar já expressava o “obrigado”. Era o Silvane, que mais tarde, no ginasial, o apelidaríamos de Jack (a pronúncia era Djéki), personagem de uma história contada em nosso primeiro livro. Moreno, simpático, extremamente educado, mas muito pobre. Ele tornou-se meu melhor amigo por muitos anos. Por onde andará?
Voltei para casa, também de mãos dadas com Dona Helena que, durante o trajeto, veio me incentivando aos estudos, às descobertas e à vida.
Minha mãe me aguardava com o costumeiro sorriso e beijo. Durante algum tempo ela me interrogou. Queria saber de tudo e como foi o meu primeiro dia.
Dona Helena, que saudades!